Comprimidos

Leia a bula.

Ao persistirem os sintomas, procure um médico que saiba responder algo além de "deve ser amor".
Que coisa doentia.

sábado, novembro 12, 2011

quinta-feira, novembro 03, 2011

Conjunções encadernadas.

Foram meses de nada, e aconteceu simplesmente tudo. Menos o que eu mais gostava de fazer. Inspiração abandonou, falei que ia ter bolo, nem assim quis ficar. Sei lá, devia estar de saco cheio de mim. Todo mundo fica uma hora.
Achei um bloco na gaveta, daqueles que a gente guarda no bolso, na bolsa e no tedio das tardes nem bonitinhas nem feinhas.
Botei nele frases que se encaixam, mesmo quando não fazem sentido. Tudo assindético. Sintática, morfica, semantica e sensivelmente.
Lá vem elas... Sem aspas, porque não cabe mais nada que não as próprias.

~

Ninguém dá bom dia pra noite. Logo ela, que acorda junto e faz café. Se fossemos menos ingratos até levaria na cama, aposto.
Abro numa página qualquer e leio. Se não entendo, mudo de página. Reler é coisa de gente repetitiva. Então eu abro numa página qualquer e leio.
A verdade é falsa, mas só porque tem muitas caras.
Como é que deve ser não existir?
De toda importância da conversa, o que mais se nota é a companhia.
Sinto falta de um defeito. De uma ironia fora de hora. De um humor negro do mais sujinho e bêbado, podendo ser limpinho e sóbrio se eu gostar de quem o faz. De falta de senso, de dogma e vontade de se encaixar. Do exótico, do esquizofrênico e daqueles males que me fazem bem. Bem não por serem bons, mas porque exatamente me fazem.
Hoje eu acordei, pulei do abismo e dancei lá embaixo. Tango argentino, se quer saber.
Eu temo meus extremos porque os amo com toda intensidade.
- Eu te amo.
- Toma, leva minha bolsa. Mas não me machuca, por favor.
Adoro agulhas, odeio anestesia.
Gosto de gente funda. É bonito e dá vontade de mergulhar.
Eu sei nadar. Se não soubesse as amaria, justamente pra me afogar.
Pegar o bom e fazer dele ótimo por pura antropofagia.
Só o suficiente não basta.
Larguei as expectativas... Gosto de estar pronta, não demoro pra me arrumar.
Problemas na casa de fora, na de dentro nem ouso mais entrar.
Compartilhar problemas sempre me pareceu egoísta, apesar de ser um verbo naturalmente solidário.
Quero carinho. E não leve pro diminutivo só pela palavra. Preciso de mais.
Esquece o que falei da casa, virei minha luneta pra dentro.
To me enxergando melhor.
A mesma coisa de sempre é algo muito relativo pra quem está esclerosado.
E entre duas coisas, escolho a que veio depois. A primeira só vale mesmo se a segunda não existir.
E não bebia nem deixava embebedar.
Sou um gasparzinho sólido.
Que tal ficar de ponta-cabeça pra começarmos a nos entender?
Se toda coincidência tende a que se entenda...
O que vale mais? Um pouco de tudo ou muito de nada?
A vida é meu Gargamel.
Esses dias de horas seculares que me demoram os nervos e hibernam meu piscar de olhos...
E àqueles que patinam na mediocridade, um brinde de taças vazias.
Quem me dera Sherazade ousasse se apropriar de mim.
E dentre os meus três lados, o melhor símile é o fundo.
No meio do caminho tinha uma pedra. Não desvio, seja por coragem ou falta de bons reflexos. Tinha uma pedra no meio do caminho. Me empurram, tropeço e só faço rir de mim. No meio do caminho tinha uma pedra e foi ela que me lapidou assim.
O melhor conselho que tenho sido capaz de dar ultimamente é que não ouçam os meus.
Freud explica e eu não entendo nada.
Travesseiros macios de peito de mãe.
Te dei todo o tempo do mundo e agora você quer o meu?
Tem gente que acha que eu não sei e nem sabe...
Mal te conheço e você já ta me sufocando.
Mas o sufoco sou eu.
O desconhecido também.
Alô?
Quem fala?
Tu, tu, tu, tu.
Mania de monólogos.
Já chega. Menos papo e mais cafuné.

domingo, maio 08, 2011

Parabéns por ontem, por hoje e provavelmente por amanhã.

Parecia ter sido ontem a primeira vez que a vizinha da casa ao lado armara um escândalo, convidando toda a rua pra desventura da filha arteira da Dona Rosa. Correr e sair tocando campainhas como se os dedos fossem cair: meu hobby. Eu não era fácil. Menininha diferente, esquisita, invocada. Sem afeições materiais, isso é um fato. Nunca quis aqueles tênis de luzinhas patéticos, febre no colegial. O que eu queria era liberdade. E reclamava por não poder fazer o que queria, sair pra onde fosse sem hora nem motivo pra voltar.
Pouco chorava. A tristeza era engolida feito uma bola de boliche, inflava a goela mas não se transformava em água, sal, gordura, proteína e memórias. Sistema lacrimal obediente.
Na escola era um caos. Passava os recreios jogando cartas com os meninos. Ganhando, é claro. Tazos, chapinhas, baralho, peões, pebolim, sorrisos e sonhos. Poucas bonecas, o que me fez ser um pouco menos humanizada do que deveria, talvez. Crianças que nascem com carrinhos tendem a crescer e virar engenheiros. Gente que brinca de boneco acaba terapeuta. Ou o contrário, criança não sabe de nada além do sabor preferido de sorvete. Não há limites quando se tem menos de quinze. Quem sabe doze. Há crueldade, isso sim. Gordinhas que viram mamíferos gigantescos. Nerds que jamais terão namoradas. Ruivos que, ah!, seus esquisitos, apaguem o fogo disso aí.
Mas então passou. Guardei na parte de cima do armário todas as cartas de Pokémon. Não tinha mais tanta graça. Era careta, mico. Escondi o primeiro beijo. Talvez até hoje ela nem saiba.
Ouvia de todos os professores que meu problema era ser demais. Isso mesmo, demais. Falar demais, imaginar demais, perturbar demais. Tudo isso em menos de metro e meio.
Olhava para o relógio da parede e contava os anos como se fossem minutos do recreio. Ligeiros e divertidos. Responsabilidades chegando. Cobranças, obrigações, limitações. Aonde está aquela menininha de bermuda tactel que corria destrambelhada sem se importar com o amanhã?
Cresceu. Criou-se.
Ou melhor, foi criada.
Pelas melhores e mais sinceras mãos que o mundo já viu. Por uma mulher que renunciou os próprios sonhos e felicidade em prol de um sorriso que nem ao menos era seu. Por alguém capaz de ler meus olhos como quem lê um texto de Clarice Lispector. Com profundidade. Por alguém que aceitou, sem temer e com orgulho, a responsabilidade de deixar para trás uma parte de si. Alguém capaz de conseguir fazer o impossível parecer mais fácil que brigadeiro de panela. Que acordava na madrugada e corria ao meu quarto pra saber se estava tudo bem. Minha vulnerabilidade só existia quando longe dela. Parecia temer o famigerado bicho-papão. Aquele que ela trouxe da maternidade e a grande maioria das pessoas chama de "amor incondicional". E esse é, de fato, um sentimento monstruoso.