Comprimidos

Leia a bula.

Ao persistirem os sintomas, procure um médico que saiba responder algo além de "deve ser amor".
Que coisa doentia.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Habito nos hábitos.

Eu tenho mania de exagero, de intensidade. Mania de fugir quando parece que o desconhecido vai me alcançar. De rir feito idiota de coisas nem tão engraçadas assim. De ser inconveniente. De falar que não posso quando na verdade eu apenas não quero. De tentar ser sutil pra não magoar quando o outro merece se foder. De ser gentil com quem não merece. De ser grossa com meus melhores amigos que nunca me abandonaram. De amar quem não me ama. De sofrer por quem não se importa.

Essa minha mania de ser eu ainda acaba comigo.

sábado, dezembro 18, 2010

Nem bom nem dia.

(Eu detesto fazer notas nos textos, mas talvez seja melhor você ler o anterior para entender esse. Só uma dica. E desculpa a zona)

Dormi e então olá. "Bom dia", você diz. Nem bom nem dia, como ontem não era noite. Nem pergunte se "ei, você tá bem?" porque esse sujeito não se encontra. Trancou a porta, não quer sair.
Finge não estar. E então você (o você que não sou eu, o você que existe. Até demais.) parece tentar me convencer a amanhecer de verdade, aceitar que só assim posso ser eu.
Você está certo. Mas não sei se vou admitir. Não sei se quero mais. A tua manhã tem um sol que queima e arde e cansa e abafa até pensamentos.
Você está certo. Mas não sei se posso admitir. Meu orgulho chora sempre que penso nas vezes em que voltei atrás da minha própria voz.
Eu já acordei. Tinha ficado na mesma, na merda. Decidido manter a decisão mesmo que isso seja absurdamente redundante. Tanto quanto o "eu te amo". Isso é tão obvio! Você é você, eu sou uma tola. É claro que isso ia acontecer.
Claro... Luz...
Bom dia.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Nem boa nem noite

Talvez, como sempre, amanhã eu acorde e decida não decidir. Resolva esquecer todas essas promessas que me faço agora, continuar tentando. Mas enquanto não amanhece, eu escolho desistir. E isso nunca me soou tão corajoso...

Exercer minha liberdade, exigir minha felicidade. Talvez seja isso que eu esteja fazendo quando resolvo largar tudo, o mundo, você. Ou quem sabe eu apenas esteja cavando um buraco mais fundo. Amarrando no tornozelo a mais pesada das cargas: o arrependimento.

Mas não me importa. Ainda não dormi, tampouco acordei. E nessas horas de insônia eu percebo que, antes de ter jurado estar sempre pra você, eu deveria ter prometido nunca deixar de existir para mim.

Me perdoa. Pelo menos por essa noite. Quando eu acordar te digo se volto ou não.

Eu te amo, mas você não. Eu te amo independente das noites mal dormidas.

Eu te amo. Só isso. Tudo isso.

Tudo, tudo.

Nada.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Pausa para uma crise adolescente.

Vou lhes contar a verdade sobre o amor. Ele não é legal. Pra te falar a verdade, ele é um grandissíssimo filho da puta. E eu adoraria matar quem o inventou.

Mentira.

As vezes acho que ninguem criou, ele simplesmente nasceu. Um aborto. Uma necessidade. Uma falta do que fazer. Ainda preciso decidir se ele é bom ou ruim. Talvez isso não dependa dele propriamente dito, mas de quem o gera em mim. Eu não dou sorte mesmo… Aborto. Puto. Homens. Argh.

Bom, o amor. Ei, você suspirou? Você gosta dele né? Mas aaah, não suspire. Suspiros me irritam. Eu só suspiro quando estou com pressa. Ou puta. Eu tô sempre puta então sempre suspiro. Mas suspiros me irritam, então não os faça. Fiquei puta. Suspiro. Shiu.

Bom, o amor. Mais uma vez. Eu tenho deficit de atenção, desculpa. Mas então, o amor… Essa coisa louca, que estoura a boca to teu estômago mas que você, programada pra achar tudo lindo, diz que são apenas borboletas. Borboletas não explodem. Elas não te fodem. Elas nem ao menos causam dor. Não querem fazer isso, sabe? Elas nem pensam! Cabeças de vento. Elas tem cabeça? Bom, então só ficam por ai, batendo suas asinhas, pousando em lugares inadequados e dizendo em borboletês que não ligam pro que se passa dentro de você. E elas realmente não ligam, acredite. Polén é tão mais interessante…

Elas não voam dentro de você quando ele aparece. Elas não sabem quem é ele. Eu também não, mas você provavelmente pensou em alguem. E não suspire! Mas elas nem se importam. Não as coloque no meio disso tudo. A culpa da explosão é sua. Se você está despedaçada, não reclame aos insetos. Você o deixou te invadir, e ele então marcou o territorio. Agradeça por ele não ser um cachorro. Seria bem nojento…

E então o cheiro dele te invade. Você não consegue pensar em muitas outras coisas. E no começo não se importa com toda essa incompetência. Porque sim, você passa a ser um robôzinho inábil, quase retardado. Eu me sinto retardada quando amo alguem. Não acho que amar seja uma escolha, mas ser retardada sim. Sei lá, eu só sou mesmo. To bem assim. Retardada. E nem preciso amar pra ser, mas quem se importa? As borboletas não..

Aliás, as unicas borboletas que se importam são essas débeis, ilusões da sua cabeça. Capture-as logo antes que elas virem carnivoras e comecem a chacina. Não que dê pra evitar… Uma hora você será comida. Sem sacanagem.

E bla bla bla o tempo passa. Você expande a zona de conforto dele como se fosse um aplicativo da internet. Ele aceita todo o seu amor, é um presente. Mas mini granas não existem nessa vida. O preço é muito mais alto, querida. Mais vital. Menos nerd. Seu coração vale um pouco mais que moedas douradas. Você não mora numa enseada com trinta peixes cada. Eles não te amam. A Leite Gaga não existe. O principe encantado também não.

É um absurdo que as pessoas façam questão de provar que Papai Noel não existe, mas insistem nessa coisa de principe do cavalo branco. E se ele existir, duvido que venha num cavalo. Ainda mais branco. Daonde o meu “principe” está vindo, de tão tão tão puta que pariu distante, no minimo o cavalo tinha que voltar cheio de lama né? Mas acho que ele está vindo de tartaruga manca mesmo, vai saber.

A questão é que eu ainda não te contei a verdade sobre o amor. Eu apenas te disse o que acontece quando você o sente. Mas, de fato, é só isso que eu posso te falar. Eu não sei a verdade sobre ele. Eu te enganei. Mas eu sei o quanto você pode ganhar e perder com tudo isso. Ele te tira muita coisa. Te oferece tantas outras. Alegrias, sonhos, enganos, ilusões, carinhos, memórias. Ele não promete ser pra sempre. O amor desgasta, esmaece. Mas ele te permite construir uma vida paralela, eterna. A unica coisa que você precisa fazer é optar viver ou não nela.

E se você disser sim para tudo isso, aceite que as borboletas podem virar águias, com garras enormes, prontas pra te agarrar pelo pescoço e jogar de cima de um prédio, daonde voce vai atingir o asfalto e virar panqueca. Mas normalmente a queda é tão deliciosa, que você fechará os olhos nos 5 segundos finais e agradecerá por ter sentido algo tão incrivel. Morra feliz. Retardada e completamente feliz. Mas como você já sonhou demais, não custa torcer para que o principe chegue a tempo e esteja lá embaixo pra te segurar.

terça-feira, dezembro 14, 2010

Um conto sem título, história, autor ou porra nenhuma.

E nesse papel envelhecido, com cheiro de fundo de gaveta, vomito minhas angústias.
Não gosto desse odor. Que relevante...
As vezes me perturbo ao pensar se deixar de gostar de você é realmente a solução dos meus problemas. Te deixar de lado, jogar num canto qualquer até a poeira inibir toda a minha vontade de te procurar. Penso se todos esses pensamentos loucos e inconvenientes vão desaparecer simultaneamente à sua fuga de mim.
As vezes questiono se as lembranças vão continuar a me perseguir mesmo que esteja a quilometros de distancia e tenha aceitado o “nunca mais quero te ver”. Não que ache que eu vá ter coragem de dizer, mas vamos supôr.
As vezes, no meio dos meus disturbios e surtos de saudade e puta que pariu porque diabos gosto tanto de você?, penso que é meu veneno. Nas tantas outras vezes, quando me aparece com aquele seu jeito torto, suave e incrivelmente sexy, eu vejo que talvez seja o remédio.
Você é meu paradoxo. Meu chão, meu desequilibrio. Minha falta de pensar, minha vontade de agir. Você é meu até quando não é. Não que eu te coloque num pedestal, mas você anda protagonizando demais a minha vida… E não estou reclamando, não sou anti-herói. Apenas a mocinha esperando pra ser salva. Ou, nos meus dias menos ortodoxos, para ser molestada cruelmente. Eu não me importo. Meu corpo é formado por linhas tortas que choram pra que você nelas escreva. Um conto qualquer. Horror, romance, drama, comédia. Só não espere o papel envelhecer.

terça-feira, dezembro 07, 2010

Guilhotina.

Prostrada na cadeira da vida, nesse balanço qualquer. Meu peso, meu reflexo, a inércia. Tudo me move mas minha consciência repara que não saio do lugar. A cabeça não pára, mas meus pés, sossegados diante do conforto da poltrona, insistem em se abster de todas as mudanças que necessito. As vezes não reago, não interajo com meu próprio organismo. Conformismo, preguiça, vontade de não ser, de nem sei.
E então minha cabeça pede pra sair e fazer seu trabalho, por mais suicida que ele possa parecer.
Tá na hora da degola.

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Não sei nadar.

Não adianta mais eu pedir pra você voltar, pra ficar, pra não ir, pra não ser, ou ser só pra mim. Você fez com que isso não dependesse nem de si próprio. E agora eu vejo a minha felicidade duplamente ramificada, e nenhuma das pontas sou eu quem segura. Eu queria ter a capacidade de controlar minhas sensações. De tirar, colocar e manipular o que precisar, só pra promulgar mais um pouco o prazer em ter meu diafragma funcionando normalmente. Mas esse prazer inexiste. Eu não faço mais tanta questão de respirar. Eu não faço mais tanta questão de porra nenhuma.
A única coisa que entra em mim agora é esse vazio, que se alarga, que preenche. Eu estou cheia dele. Desse oco. Dessa sua falta. Mas você não quer voltar. Você insiste em tomar aquele táxi de que falamos ontem. Você quer sair de mim. Eu não quero deixar. Mas os meus desejos não importam mais, porque tudo que cabe dentro de mim é essa puta chamada saudade, que dá e cobra mais do que merece.
Eu sei que você quer me deixar. E eu imagino que vá conseguir. Não que eu esteja permitindo ou pouco me importando. Você é o que mais me importa agora. Talvez mais do que eu mesma, que tenho essa mania fodida de ser mais para os outros do que para mim. E isso só não é mais complicado de admitir porque a verdade é fácil de desprender-se. Peço então que não incinere a felicidade que emoldurou e pregou na parede da minha carne com esse fogo ardido do "não". Que não faça com que tudo se transforme numa massa pálida e fétida chamada rancor.
Eu não quero te odiar, passar por você e virar a cara como se fosse um cão sarnento, desgostoso. E também não quero te perder, porque aí é menos um pedaço de mim e eu já sou pequena o bastante pra virar parcela. Só sei que quero deixar de sentir essa porra louca toda, essa dependência que me causa câncer de todos os órgãos.
Mas, enquanto isso não acontece, fico aqui brincando de vidinha, treinando pra sobrevida e reclamando da demora da morte. Me arrebentando internamente, tentando achar uma forma de desatar os nós de marinheiro das minhas víceras que te prendem em mim.
Náufrago.

sexta-feira, novembro 26, 2010

Ei, você ai.

Queria saber como você conseguiu isso. Como me conseguiu.

Porque, sabe, você não é nada de mais, não é muito diferente do resto do mundo. É comum, simples, normal, casual, um número, uma estatística. O problema é que você é você e isso me invade como uma lança em chamas. Queima, arde, inflama, infecciona e mata. Mas você também é um paradoxo. Daí eu revivo. Nasço das cinzas porque você quer, precisa, pede, manda ou nem ao menos se importa e então eu preciso levantar pra saber porque. Eu adoro ouvir sua voz. E também adoro perseguir seu silêncio. Adoro seu perfume tanto quanto o cheiro da sua pele. Seu sorriso, sua cara de puto, seu ciume, sua verdade, sua mentira e tudo mais que é seu, só porque é seu. E quando minha cabeça dá uma trégua de você eu tento entender, mas não dá.

Porque, sabe, você não é nada de mais.

Mas que porra de nada bom que você é.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Não que se importe.

estar contigo seria o paraíso
se não teimasses em transformar num inferno salgado.

onde o sal vem das minhas lágrimas, amargas,
insípidas e tão somente
minhas.
talvez seja por isso que não importe.
a dor não te atinge.
o rasgo não se aprofunda até tua carne.
é meu fim,
meu corte,
tua culpa.

teu riso que me arrebenta a alma,
teu cheiro que me confunde a mente,
teu cheio que me esvazia completamente.
e teu gosto que me alivia a morte.

não que se importe.

segunda-feira, novembro 15, 2010

Exit, oh shit.

Lá vai você, voltando pra ela e me deixando sem saber como voltar pra mim mesma.
S.O.S emergência, a porta da minha vida emperrou e você ainda se recusa a abrir.
Vou ter que arrombar. Destruir. Ser como você.

sábado, novembro 13, 2010

Moulin Rouge contemporâneo.

Ela andava de um lado para o outro, no quarto trancado. E querendo estar com ele.
Pensou que fosse pra sempre. Ele disse que seria.
Viado mentiroso, rato de puteiro, drogado, maldito, meu fim.

Ele estava sentado na sala, olhando a televisão sem enxergar nada.
Que porra de jogo ruim, acabou a cerveja, preguiça de ir no bar.
É, vou ficar aqui mesmo, que se foda. E pára de tocar, telefone desgraçado.

Era a outra. Não estava aflita, não estava apática. Estava ela, toda ela. A vadia.
A qualquer uma porque dá pra comer. Só dependia do ponto de vista.
Ligava pra saber se ia rolar mais uma.

Mas não ia. Ele não queria.
Aliás, de acordo com a mulher cuja vida ela desgraçou, ele não queria nada.
Era um sem rumo, sem fundo nem razão.
Mas também dependia do ponto de vista, porque de acordo com ele, ela tinha esse papel.

E agora ela estava ali, ainda repetindo aquele circuito agonizante.
Querendo lembrar de alguém que poderia garantir sua diversão nada sóbria, que pudesse levá-la para um beco qualquer e fazer ela se sentir usada.
Como se fosse a outra.
Cadê as anfetaminas?

Ele tentava se lembrar de como falar com as mulheres.
De como se chama aquele sentimento que estava ali agora há pouco, mas que provavelmente foi expelido junto com a porra toda.
Literalmente.
Ele lembrou. A amava, ela precisava saber disso.
Mas era incompetente demais, incapaz de sair porta a fora e gritar pro mundo tudo que ainda não havia sido sugado por aquela versão dele. A imunda e fanática por neons de casas promíscuas e saias que mais parecem cintos e mulheres que gemem por 10 paus. E não importa o ponto de vista nesse caso.
Ficou perdido em si, dando voltas.

Ela deu.

O telefone dele parou de tocar. Ela convidou um amigo de um colega de um vizinho, que ela chamava de Cara só por educação, porque ele não seria nada.
Foram pra um qualquer de beira de esquina e a música ambiente se misturava com o mofo do quarto, colônia barata e angústia.

E a outra era só a outra. Que não ligou mais, não se importou em saber.
E quem se importa quando a dor não consome a si?

sexta-feira, novembro 12, 2010

Alma condensada.

Tem dias que não dá pra acordar bem, inteira. Apenas levantar da cama, olhar o mundo através da janela e ver somente uma faixa de destino embaçada, enquadrada naquele pedaço inorgânico. De parar pra refletir (não no vidro, mas dentro de mim) e tentar descobrir para que vim.
Crises de identidade e (des)crença que me pegam de um jeito que não dá pra não pensar.
Hoje foi um dia assim, todo cinza.
Ainda debruçada no mármore gélido, fiquei, por longos minutos, fitando aquele reflexo abobalhado.
Pensei ter visto uma rachadura no vidro, mas era em mim que ela residia. Meus cortes, meus retalhos, meus indícios de fim. Rasgos que eu não mais lembrava de como contraí. Restos que a racionalidade fez questão de ocultar.
Mas então eu não existia mais. De tanto fugir, acabei me perdendo. E era como se eu visse uma desconhecida.
Aqueles traços não condiziam com o que gritava em mim. Eu fazia eco, meus berros íntimos estavam ali, mas até os mudos podiam falar do silêncio que envolvia o quarto.
Mesmo que a figura projetada gritasse que era eu, o que existia naqueles olhos que alegavam ser parte de mim não era o que eu imaginava passar. Não era o quê eu queria transparecer, mas o visível não existe de verdade. O que somos está escondido e não quer sair.
Não quer, não vai, não sai.
Então eu saio. Me escondo mais uma vez, agora dos meus desencontros.
Da falta que eu faço pra mim, da distância que me impede de agarrar tudo que sou e sinto e amo e amargo e não consigo mas continuo tentando porque é disso que eu vivo.

Por tantas vezes me pego desviando do que sou, do que estou. Tento sorrir quando choro por dentro, quando minhas entranhas estão se rebelando numa dor grogue, embriagada, afogada nos meus erros. E não dá pra respirar.

Claustrofobia. Abro a janela. Não adianta, o sufoco sou eu.

A chuva caía e com ela os pensamentos atordoados empoçavam.
Agora é só esperar que ela evapore, porque é daquelas que vão e cessam.
Que te deixam esperando numa esquina qualquer até resolver lavar quem mais precisar. E então você pode atravessar a rua, desviando dos buracos enlameados mas sabendo que você está aonde deve estar.
No meio da chuva, do frio, da névoa, de si.

Arte.

Tenho sonhado com coisas simples. O dia clareando, seu sorriso de caninos pontiagudos que perfuram meu coração e nada mais do que isso. Como se fosse pouco. Como se você já não fosse tudo.
Livro meus olhos do peso das pálpebras e reparo nas estrelinhas infantis coladas no teto. Elas não brilham mais à noite.
Queria poder dormir lá fora, mas a sociedade não deixa. Queria poder dormir com você e espero que a sociedade vá tomar no cu se vier impedir que essa ultima gota de felicidade jorre de mim.
Mas ai eu abro a janela. E você tá pela esquina de qualquer lugar. Esqueci aonde eu tô, o nome da rua, o meu nome. Só sei de você.
E dos seus braços que envolvem o pacote pardo da padaria, a fumaça que sai dos seus lábios. Dois vicios num só. Mas eu largaria o cigarro por você, acredite.
Eu me largaria por você. Eu já faço isso.
E você para num banco qualquer de uma praça que brotou pelo meio do caminho. O que você criou pra que seus pés pudessem pisar.
E senta, e encanta, e faz de mim uma espectadora alucinada por te ver esfarelar o francês com manteiga. A xícara de café roubado do bar vizinho (que é mais gostoso, o da padaria é muito ralo) e o cheiro que sai dela incomoda meus pulmões. Mas eu seria capaz de moer café com os olhos só pra te ver sorrir com a degustação. Só pra assistir você cheirar toda a fumacinha e dizer pra si mesmo que tem sorte de ainda ter um emprego qualquer que banque seu pretinho da manhã.
Fotografo essa imagem. Emolduro. Um quadro que eu pregaria na minha parede.
Porquê existem coisas que são lindas sem esforço?

terça-feira, novembro 09, 2010

Abre-se o jornal da vida real.

Toda manhã ela aparecia na mesma padaria, sentava-se próxima ao balcão e pedia seu rotineiro café com pão.
Abria o jornal matinal, e ia intercalando a leitura com os goles na bebida aquecida. Aquele jornal que vinha com as notícias diárias, a maioria delas tragédias cuspidas em letras garrafais. Relatos de vidas fragmentadas por motivos insanamente humanos.
Eram gritantes os defeitos, mas, ainda assim, ela vivia como se sua história fosse parar num filme hollywoodiano.
Estava totalmente alheia ao que acontecia.
Ria-se das tirinhas, um interesse especial naquelas em que o protagonista é um animalzinho falante, tão surreal. Cultuava as crônicas, salto triplo no caderno de esportes. Sapateava nas folhas do caderno de economia que, aliás, relatavam mais um acesso de crise nas ações.

Quem se importa?

Ela estava ali, saboreando um café forte feito o povo que doma a verdade do mundo. Um café emoldurado por uma xícara de porcelana, frágil feito essa puta sociedade desigual, apagada como a voz de toda essa gente, descontente, descrente, doente de não saber o quê é ou o quê pode ser.
Um café doce como as lorotoas que hoje contam aqueles da politicagem, se maquiando de sensibilidade e justiça.
Café puro feito a mente das crianças que ainda acreditam no que está por vir.
E o pão? Esse é pra que a vida não fique tão indigesta. Ele que torna tudo menos intragável.
É pra segurar aqueles que tem estômago.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Insônia.

Queria ter alguém para poder largar meus braços em torno dos ombros largos,

Alguém que consiga inibir o caos ao tecer meu corpo com as mãos.

Que não faça das minhas desastrosas desventuras seus fardos

Em quem eu possa confiar, sem medo, meu coração.


Alguém que sorria em meio ao fim

Só pra me ver trocar o rosto por um mais risonho.

Que esteja, mesmo à milhas, vivo para mim

E que não me acorde, ao som do despertador, gritando que tudo foi um sonho.


Não me faça cair da cama, eu acreditei que era você.

E isso não tem rima, nem graça. Nem alma, nem nada.

Nem eu.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Em suma, sumiria.

Hoje não é um bom dia para morrer.
Ontem talvez tivesse sido, as cinzas se misturariam com tantas as outras no meio do mar. Fênix é o cacete, me deixa ir. Me deixa nadar, me afogar, me perder, me encontrar e sumir, com ou sem mim. Sanar essa ferida que não estanca, sanar minha sandice, minha encenação de gente viva.
Mas hoje não é mais um bom dia pra morrer. Perdi a hora, e então só ano que vem.
Pelo menos algum dia da minha história deve fazer sentido.
Nem que seja o ultimo.

terça-feira, novembro 02, 2010

Corredor de si.

Na beira da cama, os pés apontavam para o teto. Cabeça funda no travesseiro, a espuma afogando as têmporas. Se não fosse a luz clara que já invadia o quarto, poderia fingir-se de morta e realmente acreditar.
Trrrrr.
Mas que porra é essa?
Maldito seja Graham Bell. Mentira, maldita seja eu que resolvi manter contato com esse (i)mundo.
Trrrrrrrrr.
DDD. Doença, demência e desatino. Quem sabe destino. Tanto faz.
Trrrrrrrrrrrrrrr.
Amaldiçoada ou não, ela se levantou, sem olhar para os lados. Tentava respirar o mínimo possivel para manter o silêncio e não irritar os ouvidos insatisfeitos da noite anterior.
Foram tantas palavras insossas. Sem dó,
sem dor, sem
nada.
Se arrastou até o cômodo seguinte, donde vinha o - TRRRRRRRR - berro mecânico.
Ele parou assim que ela se aproximou.
Se estivesse em seu estado natural teria xingado até a ultima espiral do fio, mas não estava. Realmente não. Nem ali talvez estivesse.
Voltou como se tateasse as farpas do chão de tacos, arrastando a manta que só agora descobrira estar sobre seus ombros.

Foi então que viu. Que se encontrou.
O reflexo estava ali, não podia mais evitar.
Parou em frente ao espelho, no meio do corredor, e então analisou as bolsas escuras sob seus olhos negros. Os dentes amarelados não instigavam mais um sorriso. As curvas disformes espalhavam pela imagem suas imperfeições.
Até ontem nada disso estava ali. Lembrou-se daquela música que selava a própria realidade. "E quando olhei no espelho eu vi meu rosto e já não reconheci."

Ela era a melhor, a maior, a mais bela. A única.
Era dele.
Mas agora só sobrara aquilo. Uma espécie de borra, sem definição. Uma figura comum que, se jogada no meio da multidão, não se destaca.
Talvez só fora esse mesmo seu papel. Um enfeite, um bibelô. Daqueles que se põe na estante mas logo perde a graça, devido ao desgaste da superfície.

Prostrou-se na cama e esperou que a poeira da escuridão chegasse. Cobriu todo o corpo com a manta. Jogou-a então para um canto, com expressão de asco por ela estar tomada daquele perfume barato que infectava o tecido.
Nunca fora religiosa, ainda mais agora que toda a descrença desabara sobre seus miolos, mas rezou pra que dormisse tempo suficiente para jamais ter de rever a própria imagem, que arreganhava a verdade na cara dela.
E lamentou saber porque e por quem tinha medo de se encontrar.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Três poemas de um estado (de espírito) que existe*

Del mondo, Drummond.

Nunca fui um personagem dotado de boas memórias
E o fado se propõe a me infernizar.
Se a criatividade existe, me falta papel
E se o látex surge, por pena de mim,
É o tinteiro que seca e impede a consumação.
Cruel é o destino de um jornalista que, por falta de sorte,
Não propaga seu dom pela falta do que dizer.
Mais ardido é o daquele que tem a noticia,
Mas nada na mão para fazê-la acontecer.

(Desconfio que escrevi um poema...**)
Melhor acabá-lo logo antes que o cosmos me pegue e leve embora esse rasgo de papel com tudo que sobrou de mim.
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Redator sem redenção.

Ninguém me vê através das letras estampadas no segundo caderno.
Desde que eu leve o choque, a risada ou a pura informação, não há mais nada para saber.
O senhor da praça não percebe que está a me ouvir
E não duvida da minha voz.
Mas só não o faz porque não se lembra de mim.
Porque seus oclinhos meia-lua não me enxergam. Mas eu os vejo.
Vejo o mundo e transcrevo.
Eu, como se fosse a mão que dita o dia-a-dia, não sossego nessa falta de reconhecimento.
Por mais que eu tente, não saio dessa capa invisível que se mantem contente nas letras miúdas do fim da página.
Caracteres semelhantes à minha carta de identificação mas que, de fato, não significam nada.
Porque não sabem que eu sou eu. Porque não duvidam de mim por não saberem que 'mim' existe.
Minha humanidade é subestimada, passo a ser apenas porta-voz de tudo.
E, mesmo assim, sou mudo na mente de vós.
Não cheiro a tinta, minha pele inflama e exala verdade.
E o mundo conspira pra calar minha existência, mesmo que precise de mim pra se fazer existir.
Afinal, sem mim o mundo seria mundos.
Vários, individuais, que se chocam e não atravessam uns aos outros.
Patético o quanto precisam de mim pra mostrar que são um só e, mesmo assim, não me percebem.
Quem sabe um dia eu me esqueça de avisá-los da programação cotidiana
E aí verão com quantos toques datilográficos se faz um jornalista.
E a sua verdade escorre pelas minhas mãos...
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Selznick que me perdoe.

Acordado até o calar da noite,
Eu ando cuidadosamente pela escuridão.
Não há como dormir sabendo que a plenitude chegou à mim. Que finalmente fui capaz.
As anotações que carrego comigo contém informações que qualquer um cobiçaria.
É de surpreender que até agora eu tenha durado tanto com algo tão valioso.
Vejo, ouço, sinto que a cada esquina algo vai tirá-lo de mim.
Corro intimamente dessa sensação de proteção que evoca o pânico.
É um presente divino, consolo por toda a minha história penosa entre os papéis nebulosos do escritório.
Finalmente, me ponho a dormir, faz tempo que não experimento tal ato com um sorriso no rosto.

E amanhece.
Cabeça baixa, desiludido, fracassado, abatido.
Não vejo porque continuar tentando se tudo termina emoldurado da mesma forma.
Quadro trágico.
O breve momento de felicidade que experimentei ontem
Nada mais foi que uma brincadeira infame do destino.
Francamente, se Deus realmente existe, seu senso de humor é doentio.
Porquê toda soberania é sádica?
O vento que carregou as minhas anotações mal sabia que arrancava um pedaço de mim, a sangue frio.
E com certeza não iria fazer diferença se tivesse se mantido na inexistencia, maldito sopro dos céus.
Mas agora eu assumo esse papel de um qualquer. Uma mera caixa de ossos, sem razão pra seguir, além de um estúpido que esquece de fechar as janelas.
O afortunado ser que as alcançou no ar, se tem qualquer idéia do que está escrito, com certeza terá uma vida contrária a minha.
Tenho a estranha sensação de que “O Vento Levou” não terá mais o prazer de completar minha estante cinematográfica.
___

* Pra quem não entendeu, o título faz referência ao Dois Poemas Acreanos, de Mario de Andrade.
** Parafraseando Drummond, que pretensioso senhor jornalista!
...
Ah sim, e nada contra o Acre, foi só um perdigoto de humor, desculpe-me a nojeira.

domingo, outubro 31, 2010

Construção é questão de prefixo.

Cansei de ser dramática.
Mas cansaço não me basta pra deixar de ser. Se respirar desse trabalho, talvez eu não o fizesse... A preguiça me move o suficiente pra me manter estagnada. Minha vontade de nada é tudo que reside.
E parece que ninguem se importa com essa minha apatia. Eu sou a vítima, a causa, o acidente. Sou o desastre, o fênomeno nada grandioso, o aborto. Mas nada disso é aparente. Nada é expelido para fora dessa minha cabeça confusa, ferida, deslocada.
E, ainda assim, apesar de indiferente, consigo atravancar as rotas alheias.
Ocupo espaço, gasto oxigênio, água, luz, gás, comida, roupas, pessoas, sentimentos que nem ao menos são dignos de mim.
E nem sei bem como o faço. Não me sinto aqui. Talvez eu de fato não esteja. E, se for verdade, Buarque me traduziu antes mesmo d'eu nascer. Morri na contramão atrapalhando o tráfego.

sábado, outubro 30, 2010

Ócio duro de roer.

Esse tanto de nada pra fazer deixa minhas energias exaustas de não serem gastas.

Aqui jaz meu eu lírico.

- O almoço está na mesa, querido.
Havia pouco tempo que estavam juntos. Pouco tempo até mesmo para saber quem eram; não existia a certeza nem do nome do outro. Mas a casa fedia a amor.
Uma pena que só ela se gabava do cheiro.

Enquanto a mulher, com uma expressão abobada, lhe entregava em uma bandeja de prata seu coração, ele ria-se por dentro sabendo que aquilo ia matá-la.
Ela estava esvaziando-se por ele, para ele. E isso não havia a menor importância, era um jogo, um passatempo que logo teria fim.
E teve mesmo.
Estavam dentro da casa com todas as janelas escancaradas, apesar da chuva. Tão arreganhadas quanto o sorriso que não evaporava do rosto dela.
A casa que ela sonhava ser só para eles dois.

Em poucas frases, cuspidas e mal formuladas, ele abriu a jaula de toda a agonia que residia nela mas que se escondia por detrás das ilusões que ele mesmo fomentou; palavras cortantes como um vento áspero e enregelante no meio da nevasca. Ela congelava. Estava frio ali dentro.
- Não é você, sou eu. Não fui feito para isso, gosto de ser livre.
Se ela estivesse em seu estado original, que nunca fora tão grogue de paixão, teria respondido imediatamente:
- Maldito filho-da-puta, porquê me trancafiou em você então?
Mas não. Emudeceu, como todo seu corpo fizera. Nada a obedecia. Perdera todo o respeito, o controle, o amor próprio.

Ele deu as costas e deixou a cena, restando apenas a moribunda. Uma caixa de ossos destrambelhada, desnorteada, desalmada. Nada.
Não restara absolutamente nada.
Sentou-se numa cadeira, tão oca quanto ela, e despejou os braços e a cabeça sobre o vidro.
Antes de se afogar em pesadelos de olhos abertos, pensou dramaticamente:
A morte está na mesa. É o que tem pra sempre.

segunda-feira, outubro 25, 2010

Se fue.

A: Ainda insistindo nessa ideia de adeus?
B: Nada pode ser mais preciso que a chegada da partida.
A: O que não é preciso é você me deixar.
B: Não se preocupe, não muda muita coisa. Antes éramos um par, agora somos dois.

Porque de pronto ya no me quería
Porque mi vida se quedo vacía

Política interna, intima, infima e inutil.

Sou uma pessoa justa, que gosta de igualdade. E estou pensando seriamente em dilacerar meu corpo pra que ele se assemelhe ao meu coração. . ... .. .. .. .... .. . .. ... .. . .. . . . .. .

domingo, outubro 24, 2010

Lavo, passo, cozinho e amo muito bem.

Se sair de casa significasse se livrar de mim eu já estaria de malas prontas.
Não aguento mais o espírito cavernoso daqui. Desse cheiro de mofo misturado à sua colônia barata. Desse ar lotado de desespero. Seria menos covarde se eu te despejasse, porque a culpa é sua afinal. Mas não estou buscando coragem, apenas um outro lugar pra morar.

Cof cof.

Interpretações do que te mantem vivo podem ser destrutivas. Respirar pode ser um objeto experimental pra felicidade. Ou punição pelo fracasso: esteja aqui e tente se manter confortável diante de suas próprias incompetências.
Mas não dá pra fugir dessas vertentes. Fatos - que nem sempre são fatos, podem ser meros acasos. Culpe sua aura cósmica ou o quê quer que suas crenças evoquem - que nos levam ao cume dessa montanha crescente, plantada em conflitos.
Abalos sísmicos provocados pelas nossas dúvidas. Pelas certezas erradas, pelos erros certos das oportunidades sem vez. Ou talvez por nada.
Despropósito.
A propósito, não tenho razão alguma pra questionar meus alvéolos.
Apenas queria garantir que você não pode ser o motivo deles ainda trabalharem pra esse corpo retalhado.
O desgaste dele já é culpa suficiente pra você carregar.

Infernaíso.

Apagaram as luzes. Tá escuro aqui nessa sala... Um toque de mãos. Um carinho aqui, um abraço, uma graça. Até que enfim.
Após um longo periodo em stand by, um começo feliz... Ou seria o final?
A luz ainda apagada. Felicidade ecoando. Mais carinhos, beijos, graças. Sorrisos. Amor. Pelo menos de uma parte.
E só dessa parte, pelo visto.
Acenderam as luzes, mas não é o fim. Não pode ser. Foi só uma lâmpada. Eletricidade. Choque.
Despedem-se.
Dia seguinte, relação aparente. Afeto aparente. Tato, gosto, sentimentos. Tudo baseado em imagem, maquiado.
Mas tão bem pintado de realidade que era difícil duvidar. Havia algo ali, era nítido. E até então, era bom.
O dia se seguia lentamente, e ela mantinha o pensamento no dia anterior. Na escuridão calorosa, nos braços que a envolvera, no
gosto que sempre a enlouquecia, e em cada simples detalhe que não lhe passou despercebido, afinal, era tudo aquilo o que ela mais queria.
Os intervalos eram como fragmentos do "pra sempre". Encontros que faziam tudo tão mais intenso.
Fim do dia. Uma falha na chama que saía da ponta do isqueiro. Não lhe faltava combustível, mas simplesmente não acendia.
Mais um dia. Atravessou seu caminho como um mustang. Sem notar a volta, nem se preocupar com quem ali estava.
Exatamente assim. Um selvagem. Mas porque?
Ela começou a notar a diferença. Não fazia sentido. Mas talvez não tivesse mesmo uma razão.
Sentia aflorar uma dor extrema. Arrependimento? Desprezo? Ela não fazia idéia.
Foi então que veio-lhe uma resposta. Não era mútuo. Uma via de mão única. Ela estava sozinha nessa.
Ele tomou outra pista, um novo caminho, um novo rumo. Sem ela. Uma viagem que talvez não tenha volta.
Ela sabe bem que ainda vai tentar buscá-lo em seu destino. Incapaz de deixá-lo seguir em frente sem saber o que deixou. E porque o fez.
Talvez seja apenas isso que falta. Uma motivação. Pra resistir ou pra desistir.
Desistir e aceitar que são planos distintos ou resistir e pôr-se na frente dele, com a única bagagem que tem: o intimo.
Bagagem essa que deveria ser suficiente. Para abastecer um mundo inteiro, aliás.
Ela toma um vôo pra qualquer lugar. Se joga. Queda livre. Esperando apenas que ele lhe tome nos braços.
Fecha os olhos. Escuro novamente. Não sabe se vai cair ou se tudo não passou de uma fase, aonde ele despertou e viu que
não podia ter acabado. Não ainda. Era pra ser até a eternidade, como lhe havia prometido.
Mas, numa história dessas, nenhuma promessa deve ser levada seriamente em conta. É uma relação movida à inconstâncias.
A menina, insensata e apaixonada, sempre se perde. Não há mapa que trace a trajetória certa da vida.
Dessa vez não foi diferente e ela foi do paraíso ao inferno.

Em apenas dois dias.

Dó.

O corpo solto, o rosto morno,
Viva não sei bem se é a palavra.
Olhar perdido e a mente divaga.
Devagar.
Vagas em qualquer lugar
Desde que seja fora de mim.
Desinvade.
Some. Sai.
Até eu desemboco no depois da minha carne.
Um grito mudo foge.
Cambaleia dentro de minh'alma
Com todos os meus sentimentos em claves de neve
Gélida como meu peito.
Praticam essa sonata
Que faz de mim
Cheia de vazio.
Estou atrasada pro refrão.
Estou
Des
com
pas
sa
da
Da cifra do meu coração.

Substantivo masculino singular. Extremamente singular.

A: Vou indo.
B: Nem te vi aí, olá.
A: Já fui.
B: Não minta, olha seus olhos aqui perseguindo os meus.
A: São apenas olhos.
B: São seus.
A: É apenas eu.
B: Sou eu.
A: Não, sou eu.
B: Mas sem você não há mais...
A: Você? Quantos pronomes...
B: Isso vai além da gramática.
A: Pode ser, mas tá na hora de um ponto final...
B: Porque você está tão reticente?
A: É que eu ainda estou na duvida.
B: Então se dê um tempo pra pensar...
A: Você ainda vai estar aqui?
B: Por ai, nessas esquinas.
A: Curvadas feito virgulas, não é mesmo?
B: É, tão bonitas...
A: Lindas!
B: Quer dar uma volta pela cidade?
A: Mas eu ainda não me decidi.
B: Vamos tomar um café, ler umas borras.
A: Você acredita nisso?
B: Não, mas acredito em nós.

sábado, outubro 23, 2010

Sinopse.

Arranjei algo pra escrever.
Uma dor pra reclamar,
Um choro prontificado na datilografia.
E letrar que sempre foi meu gosto pros dias insossos
Passou a amargar.
Instigando meu tudo,
Provocando um vômito mental.
Projeto minhas cordas,
Vocais,
Banais,
Compradas pra te dizer toda minha sinceridade,
Mas delas nada sai.
Vai ver minha alma era a sua viola,
E com suas mãos de tamanho adequado
Tocavas meu intimo de modo descompassado.
E aqui estou eu,
Digitando o roteiro funesto da nossa história
Trilha sonora cheirando ao café da manhã, que dá as caras pelos cantos
Dizendo que nada mais quer ficar dentro de mim.
Especialmente você.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Oi internautas.

Há quem diga que nascemos pra nós mesmos. Que o mundo não passa de um encontro de pequenos mundinhos individuais que acabam se entrelaçando e criando rebeliões sentimentais e ideológicas. Eu faço parte do grupo que crê que nascemos pro mundo. E que esse mundo é mais do que pedaços de solo, poeira e gente viciada em si mesma. É mais do que podemos perceber. Aliás, mais do que podemos ter. Somos superestimados, achamos que esse lugar é nosso mas não percebemos nossa pequeneza perto da existência das outras espécies. Não somos mais importantes que essas. Nem mais vitais. Só conseguimos dar um passo a frente na evolução. E por uma questão de sorte, acredite. Podiam ser os macacos a criarem esses iQualquerCoisa que entopem nossas vitrines.
Manequins. É como se tivessemos nos tornado bonecos montados. Trocamos de roupa mas não fazemos a menor questão de revermos nossos conceitos sobre quem e o que nos veste. E achamos normal quem doa a vida pra manter esse ciclo vicioso de futilidade. Pode parecer cômodo para mim, que estou sentada na frente de uma dessas armas sanguessugas da sociedade (ou inovação tecnológica, como queira chamar), mas pelo visto é a unica forma que me sobrou de chegar até as pessoas.
Paradoxo. É isso que marca os novos tempos. Enquanto pensamos que a cada dia nos aproximamos do patamar mais cobiçado da evolução nos tornamos incapazes de promulgar o tato. Há de chegar o dia em que o contato se torne obsoleto se não intermediado por fios. O dia em que nos tornaremos irracionais, monitorados por um chip social. Um passo à frente diante da incompatibilidade de nós mesmos.
E talvez meu pensamento de nascer para o mundo me torne um alvo mais evidente dessa onda futurista, quase uma vanguarda. Mas não me importo, eu resisto. Enquanto tiver consciência de sou mais que um amontoado plástico de vitrine, eu não me importo. Enquanto minha voz não for silenciada pela falha na instalação do Leadership 4320. Enquanto eu não me tornar um ciclope Nakashi. Enquanto eu for eu e, ainda assim, conseguir ser interessante.
Faça uma busca rápida em mim, tenho milhões de resultados a oferecer.

domingo, outubro 03, 2010

Dinamite.

“Eu quero mesmo é que tudo exploda. E que seja luminosa a explosão, que ecoe pelos quarteirões e faça tremer teus vidros, quebrar tuas janelas. Que perturbe teu sono e te faça ir pra rua pra ver o que aconteceu. Você não vai me encontrar lá. Eu não sou o piloto. Não sou o passageiro. Não sou o pedestre. Eu sou o acidente, e eu sou grave.” - Lucas Silveira

Eu sou o barulho, a gritaria, o desespero, o caos. Sou o que não dá pra entender, o que não dá pra evitar de ser. Porque eu me alimento de verdade e, acredite, nem sempre é bom. As vezes a mentira soa menos dolorida, causa menos insônia. Mas aí vem ônus de não saber quem és, no fim. Por isso a dor, de seu modo, me parece apetitosa. É sinal de que estou aqui, que minha carne inflama e pede pra morrer. E se o pede é porque estou viva.
Na minha tragédia há a graça da existência, e talvez isso me faça muito melhor do que uma comédia cujo roteiro não fui eu quem escreveu.



sexta-feira, setembro 24, 2010

Rain ´´´´´´

Escorre como doce entre as veias,
Como a imaginação na ponta do lápis.
Como uma alma desabrigada,
Como a calma desesperada,
Feito um coração em prantos,
Feito até tristeza, beirando pelos cantos.
Meio à uma janela, fria e impaciente.
Meio à um lugar de destino inexistente,
Que percorre por si só, descontente.
Mas ela está lá, sinuosa, estonteante
Em um rumo demente,
Pronta a evaporar num menor sopro de calor.
Solta feio ramos a desprender da flor.
E então lhe pergunto o porquê,
Mas ela não sabe me dizer
Não insisto.
Nem de mim desisto, mas dela já não sei mais.
Deixo em paz.
Mantém-se em sua leveza.
Eu a observo,
Seu caminho, seu linear
E olho. E imagino. E deixo cair.
Afinal, chuva boa é aquela com gosto.
E de liberdade.

Coloquei uma carta...

Não numa velha garrafa. Não há mar que afogue o suficiente esses pensamentos. Não há nada que os impeça de existirem. Coloquei essa carta numa gaveta qualquer, num canto qualquer, perdido em papel e achado em mim. Porque não sai, selo maldito. Tá grudado na mente, sai, sai...
Saí.
Saí de mim e fui me jogar por aí, não sei mais o que sou, porque meu "quem" já está em ti. Ficaram restos de mim pr'eu tentar entender.
Então preenchi o sulfite com o que minha mão se atentou a ilustrar. Pus em linhas tortas o certo de mim, o que me compõe. Não houve habilidade, bem como novidade. Te desenhei. Não que seja fácil moldar tuas linhas sem ao menos ofegar. Mas o inconsciente tomou conta de mim, assim como fez no momento em que escondeu tal carta na gaveta cor de canela.
Não com o objetivo de tentar fazer-me esquecer de ti. Não aprendi a cometer milagres.
Mas tudo com o fim de te ter mesmo que a fala acabe, que o sorriso apague e que tudo se afunde naquele mar que, agora, não é capaz.
Tu, então, estás em duas estantes. Entre os livros e rascunhos largados no criado-mudo. Entre átrios e válvulas sem o menor escape pra mim.
Num coração criado pra gritar toda vez que tu chegas perto.

segunda-feira, setembro 20, 2010

E, mais uma vez, me encontro assim...

Queria saber se eu já posso desistir. Se já posso me largar por aí com menos de duas décadas de oxigênio. Se já posso me doar pra quem se mostra caridoso o suficiente ao me querer enquanto nem eu mesma me suporto mais. Se a chuva que inunda meu peito vai evaporar, se é você quem pode ser a melhor parte de mim.
Eu sento na esquina da vida, esperando pelo sol. Não lampiões. Não raios falsos, refratados. Nada de miranges. Quero a minha verdade. Quero o que tá guardado pra mim. Pára de esconder meu destino. Pára de fugir daonde nunca devia ter saido.
Volta pra casa, volta pra mim.

quinta-feira, setembro 09, 2010

Furacão.

Como eu posso ser capaz de abrir meu sorriso, meu peito e minha alma tão facilmente? Como você pode ser tão assim? Irresistivel.
E é por ser assim que não podemos ser. Você já tem quem seja por você. Queria que fosse eu. Queria que fossemos nós. A sós.
Passou por mim, no meio da brisa, feito um furacão. Me revirou, colocou-me de ponta a cabeça, apontou pro meu coração e resolveu que ele é seu. E quem sou eu pra discordar das forças da natureza?

Brega.

O amor é cafona. Coisa arcaica, dèmodè, sem estilo definido, sem personalidade, significado universal, gênero, grau. Sem nada. Sou nada sem.
Eu sou cafona. E sou por sua culpa. Você faz de mim toda amor.


(Antiiiigo, achei agora há pouco. Queria ainda ter alguem pra quem dizer sascoisas :|)

Pesquisar.

Será que se eu jogar no Google Search eu te acho, resto de mim?
Você que tá por aí, perdido, alucinado, fugindo daonde nunca deveria ter saido.
Sua ausência que impede minha estabilidade, mesmo que eu nem saiba se seus olhos são negros, azuis, verdes. Devem ter a cor da felicidade, aposto.
Me dê uma pista, um sinal.
Você é meu destino.
Você, que quero como motorista, carona, freio e acelerador.
Trace sua rota, desligue meu piloto automático e vamos por aí. Sem mapa, sem rumo, sem nada. Só eu, você e a estrada.
Com o combustível que há em nós.

domingo, setembro 05, 2010

Informações gerais.

Nome: Depende do humor.
Idade: Depende do tesão.
Data de nascimento: E lá importa?
Sexo: Ainda não.
Ocupação: Estudante, zumbi nas horas vagas e imbecil nas úteis.
Cozinha: De azulejos.
Livros: Com páginas e sem sono.
Algo que faz quando não está na internet:
Com o último relacionamento aprendeu:
Mais sobre você: Sou o que sou e ninguem vai me mudar.
A não ser que me dê em troca um card muito pica de pokémon. Ou grana. Muita grana.
Não troco minha personalidade por sexo porque meu eu-lírico é assexuado.
E sabe mentir muito bem.
Interesses: Dinheiro. Desculpa, senhor hipocresia, mas dinheiro compra tudo. Familia a gente tem, não precisa comprar. Amigos que valem a pena aparecem na hora da miséria. O resto é resto. Já passei em vitrine e quase comprei um namorado, mas ele tinha uma pinta esquisita no pescoço e eu preferi esperar a promoção da semana seguinte. Acabaram os estoques e aqui estou eu, perdendo meu tempo escrevendo baboseiras ao invés de me amacacar no colo de alguém.

domingo, agosto 29, 2010

Destino: eternamente desconhecido.

Sofia nunca foi como as outras. Não gostava de folhear revistas de moda, não chorava com filmes românticos. Nem ao menos os via. Não suspirava pelos mais bonitos do bairro (nem por nenhum outro), não sorria pra qualquer um. Simpatia extrema não era sua melhor qualidade. Ela era sincera. Seus cadernos eram livres do vírus do coração-em-cada-página. Não havia um rosto que a fizesse ter espasmos apenas ao vê-lo.

Até então.
Só mais um dia comum, rotina claustrofóbica. Estava cansada daquelas pessoas, das mesmas caras passadas a maquiagem importada. Colégio só para meninas, que caos. Línguas afiadas por todos os lados, falatório incessante, fofocas, mentiras. Insuportável. Mas era apenas até o fim do ano. Conseguira convencer sua mãe a colocá-la em algum lugar normal. Fora do inferno, de preferência, obrigada.
Uma quadra antes de chegar à escola (vulgo purgatório), ela desviou. Saiu de sua rota e não sabia porque estava fazendo-o. Apenas foi seguindo seus pés que, de repente, tornaram-se independentes, rebeldes. Mais alguns passos e achou um banco.
Me perdi, professora. Desculpe o atraso de duas eternidades.

Sentou e tentou, pela primeira vez, observar aquele espaço desconhecido. Rostos desconhecidos.
Duas meninas pulando corda, uma senhora abraçando um menino de, no máximo, 6 anos. Desejou sentir o gosto da torta de limão que a avó sempre fazia. Dois anos... Uma lágrima. Droga, nada de chorar, nada de chorar. Patético. Já foi, fim.
Passou os olhos por mais algumas caras que, possivelmente, esqueceria logo depois. Nunca foi boa de memória.
Então o viu. Não estava brincando de ser um ogro como os outros, que corriam de modo animalesco atrás de uma bola. Pelo contrário, esbanjava suavidade enquanto lia freneticamente um livro qualquer. O que ele tinha em mãos era o que menos importava naquela hora. E, mais uma vez, seus pés tomaram vida. E ela não tentou freá-los. Se foram. O encontraram.
Olá, posso me sentar?
Oi, meu nome é... Não importa, ele não vai lembrar disso amanhã.
Opa, livro legal... Que droga de livro é esse?

Nenhuma de suas tentativas de diálogo mental pareciam eficazes. E não precisou inventar mais nenhuma.
- Você. - ele disse.
- Eu?
- Há mais alguem aqui?
Ela queria apontar pra todas as outras, mas percebia os olhos fixos dele.
- Acho que não. - ele se respondeu.
- Eu... eu...
- Eu também.
- Mas...
- Eu sei que não. Mas podemos nos conhecer agora. Prazer, sou seu destino.
E ela, tomada de uma coragem absurda, formulou sua primeira frase coesa.
- Sou quem esperava por você.

Alguns muitos anos se passaram depois daquela manhã. Sofia nunca mais o vira. Não tinha como procurá-lo, nunca soube seu nome, idade, gosto. Segundos depois daquelas declarações ele teve que ir. Não se sabe para aonde. Ela foi incapaz de seguir com os olhos o caminho que ele fizera, estava se afogando em todo aquele sentimento alienígena que a abduzira. Mas, com a experiência e as porradas da vida, limitou-se a classificar tal fato como 'primeiro amor' ou, de modo piegas, 'amor a primeira vista'. A unica memória de sua infância. Impossível não lembrar de algo que nunca esquecera.
Mas agora sua rotina era outra. Recheada de vozes graves, masculinas. Chefes tão insuportáveis quanto garotinhas fúteis ao tatearem uma espinha na ponta do queixo.
Uma vida financeira estável, mas um coração abatido. Nunca tivera nenhum relacionamento que durasse mais que duas mudanças de humor. Inconstância era seu pseudônimo. Muitos casos de uma noite só, nenhuma lembrança. Muitos quartos de móteis, sempre o mesmo cheiro azedo de sexo, o mesmo gosto de farinha na boca. Eca. Nada disso vale a pena.

Suas noites de insônia eram tomadas por flashes daquele momento. Queria descobrir como ele se chamava, se tinha irmãos, o que gostava de ouvir, ler, assistir, comer. Se era real.
Mas lembrou que ele era seu destino. Conceito abstrato. Ideal. Utopia. Sonho. Ilusão.
Mas tanto faz, ele nunca deixaria de ser dela. De fazer parte dessa menininha de trinta e poucos, que espera chegar aos oitenta e nunca deixar de ser essa criatura ácida. Mulher com bolas.

Foram poucos os segundos que sentiu o cheiro fresco daquele por quem esperava. Que observou aquele rosto amassado pelo lençol. Riscos lineares. Desenho impecável. Ah, como seria capaz de trocar todos os seus gozos por um encontro com ele.

Sofia nunca dividiu sua vida entre antes e depois de um grande amor. Porque, antes desse, não estava viva. Seu destino se fez naquele banco, quando chutou sua rotina e se fez protagonista de sua própria história.

Corpo inerte.

Bateu tristeza. Não me peça explicações. Simplesmente apareceu, não tive como frear. Meu peito pediu pra sair, mas como o caminho até aqui fora é meio complicado, desistiu. Como sempre. Ai chegou a vez dos meus olhos. Pediram pra se afogar, mas por uma questão biológica (ou por um defeito mental, vai saber), eles não conseguiram fazê-lo. Vai ver é preciso alguma razão. Mas se isso tudo me abate sem motivo, porque eu não consigo me mover daqui? Se não há explicação, como pode me infectar ao ponto de me pregar nessa rotina tatuada com cor de cidade? Queria saber o que me impede de abrir os lábios e mostrar os dentes. Eu escovei, tá tudo certo, sem problemas.
Talvez pra isso soar menos falso também precise de uma razão...

Mas como achá-la se eu sou toda coração?

sábado, agosto 28, 2010

Trocando a inicial do que me falta encontra-se tudo que me excede.

Fiquei preto e branco. E, sabe, eu gosto muito de cores. Mas agora eu tô diferente, sem graça.
Quase incolor.
Não que a combinação preto e branco seja feia, só não evoca sorrisos. Não em quem sempre suspirou pela chuva ensolarada.
Então cansei de mim. Briguei comigo mesma, discuti, me chamei de estúpida, inútil e insuportável. Tudo por conta da tinta que eu 'tava usando pra pintar minha vida. Quem eu penso que sou pra ficar putinha com o mundo e virar cinza? Menininha idiota.
Fechei a cara, me deletei da minha vida. Agora tô me doando. É de graça. Pode pegar.

sexta-feira, agosto 27, 2010

Cheio de vazio.

E logo eu que reclamava do amor
Estou aqui pra lamentar meu insatisfeito peito
Que se abate pelo excesso de nada
E pela humilhação de admitir que é movido por um alguem qualquer.
Bem me quer, mal me quer, não me quer. Quem quer?
Não há. Não acho. Não eu.
Minha identidade prolixa se perdeu.
Meu coração de peito murcho suspira.
Calmo e lentamente, esperando uma rajada de adrenalina.
Algo que só alguem como você pode trazer. Aonde está? Quem és?
Mas não há. Não acho. Não você.
Você que roubou essa metade cheia de mim seu eu nem perceber.
Sem nem saber que era de mim que estava arrancando um pedaço.
Acredito na sua existência. E espero que devolva essa peça que falta.
Odeio não completar quebra-cabeças.
Odeio que me tirem de mim.
Gosto das minhas rédeas, da minha razão.
E essa diz pra que devolvas meu coração.
Ou vai sentir a fúria do meu eu-lírico que, diferentemente desse meu eu inerte,
Se entope de autoritarismo e vai exigir que me complete.
Porque é assim mesmo o amor. Exigente, cansativo. E viciante.

Merda de abstinência passional.

domingo, agosto 15, 2010

Sistar.

Minha voz não tem pudor quando perto de você. Minha menina macia, textura de nuvem e sabor de amor, nunca se perca por aí sem me levar, está bem? Porque, contigo, não há perdição. Não há confusão. Não há problema.
Porquê sem você eu não sou mais eu. E sem eu ser eu, quem poderia ser? Um vazio. Fica aqui, me completa, me invade. Não que eu vá morrer sem você, simplesmente não vou existir.
E por mais que eu procure, nunca vou encontrar alguem semelhante à ti. Não há mais quem tenha um sorriso capaz de cegar o sol e os pés dourados que traduzem em brilho os caminhos que fazem.
E não me importa o quão sujo estejam seus sapatos, você não precisa tirá-los pra entrar na minha casa, na minha vida. E eu faço questão que entre. E que fique. Pro chá das 5, 6, 7. Nas muitas horas da minha história. Da minha memória. Você deveria se chamar Legria. Ah, Legria, como me faz bem...
Espero que tenha reconhecido meu amor. Ou pelo menos a minha forma de escrever.
Fica bem, pedaço de mim.

(Pra minha incontrolavelmente linda, Isa.)

Eu estou com ódio.

E estou falando sério. Queria poder dizer tudo isso na sua cara, mas acho que não vai dar pra fazer sem vomitar. E, na verdade, eu nem vou me incomodar em falar nada. Vou esperar a merda chegar até o esgoto da realidade e depois rir, diante do cheiro fétido e insuportável que sai de você. Vou abafar esse odor com o meu perfume de desprezo e usá-lo como uma arma pra te fazer perceber que nada do que fez tinha razão. E que agora você se afoga em culiformes fecais porque não aceitou a própria verdade imunda. Pare de brincar com as pessoas. Elas não merecem.
Continuo então aqui, esperando vê-lo se encharcar em confusões até entender que caminhou em fantasias mal projetadas, sujas. Lá vem um maremoto. Mar e morte. Mar imundo. Você não é mais meu mundo. Você não é mais eu. Estou pura e cagando pra você.

domingo, agosto 08, 2010

A realidade é um chá de boldo.

Não sei o que está acontecendo dentro de mim. Uma bola passional entope minha garganta, me impedindo de gritar. Meus urros de dor e confusão são mudos, mas frenéticos internamente. Eu preciso tanto que alguém os ouça... Que alguém me impeça de morrer engasgada com esses sentimentos corrosivos, que dilaceram minha alma e reviram minha mente. Que me impedem de pensar em como sair dessa via única. Rua sem saída. A morte real. E mesmo que meu corpo resista serei apenas um conjunto de ossos a caminhar, sem fé nem motivo.
Porque, burramente, depositei todas as minhas crenças no que sentia, ignorando a razão. Bem feito. Agora a minha vida desliza pelos bueiros. Acabei de vomitar meu coração.

Randiness.

Cansei de ser romântica, apaixonada, sutil e carinhosa. Cansei de ser vista como a melhor amiga, a conselheira, a irmãzona. De ser a fonte sorridente pros momentos dificeis. Cansei d'a amizade ser meu limite.
Eu quero sentir na pele um toque quente e elétrico. Ter os poros de minha nuca absorvendo um hálito fresco de manhã. Ter um abraço que busca o carnal e não consolo. Me sentir um objeto, porque só ser alma não tá dando mais. Quero me aninhar em desejo. Quero a falta de ingenuidade, o fim da inocência. O seu eu irracional e pré-histórico. Os instintos respirando por si só. Hormônios, intensidade.
Braços, pernas, laço, nó.
Você em mim, eu em você, juntos sendo apenas um só.
E que esse tremor não seja amor.
Por favor.

I knew I wouldn't forget you and so I went and let you blow my mind.

Titulo auto-explicativo.
Awch, me deixa.

O que eu queria ouvir de você...

Entro na floricultura e procuro a mais bela, recheada de pétalas sorridentes e de cheiro ingênuo. Aquela que faria qualquer um temer uma natureza divina e beleza quase sobrenatural, como as suas. Em cada canto da loja, procuro uma parte sua. Em cada aroma, cor, textura. A maciez das rosas, a graça das margaridas e a delicadeza dos lírios. Tudo te traz pra mim. Mas não tinha como deixar de fazê-lo, claro. Você não sai. Criou raízes.
Ainda bem.
E volto a procurar; Não há a quem perguntar, não há como perguntar. No mínimo, me chamariam de louco por querer resumir você em uma delas. Porquê não um bouquet, senhor?
Não, não quero várias. Só você. Não quero que se perca no meio de tantas e ache que dividiria meu amor. Ele é seu. Eu também.
Uma confusão colorida e o pólen se integrando a minha pele. É então que encontro. Que te vejo.
É, essa mesma. Perdida numa das prateleiras, empoeirada. Um vaso simples, de plástico negro, como todos os outros. Mas não, não é igual. É você. É diferente. Dentre tantas vermelhas, brancas, rosas, aí está. Minha cor predileta. Iluminada, incandescente. Que acalma o peito como sua voz suave projetada em minhas temporas. Que queima a alma como brasa feito seu toque em minha pele fria de ar urbano. Aí está, destoando das demais, como bem faz dentro de mim.
A mais bela, suave, rara e encantadora. A mais minha.
Você, metalinguisticamente, representa meu destino, flor amarela: amar ela.


Ah, como eu queria que falassem algo assim pra mim... Pelo menos uma unica frase. Ou apenas uma palavra. É tão dificil sentir?

sábado, agosto 07, 2010

The smell of you in every single dream I dream.

Eu queria tanto poder esquecer... Ou ao menos não lembrar... Você me faz tão reticente... Queria um ponto final.
Fim na dor, na insônia, nos espasmos, na arritmia quando te vejo, no seu cheiro que entope minhas narinas, no seu gosto que comove meu paladar, no seu tudo que não larga de mim.

sexta-feira, agosto 06, 2010

Cacos de mim.

Tem dias que a gente acorda de alma presa. Olhamos pro mundo através da janela e vemos apenas uma faixa de destino embaçada e enquadrada naquele pedaço de vidro. E ao parar pra refletirmos (não no vidro, mas na mente), nos sentimos estilhaçados, como se os cacos da nossa história nos cortassem incessantemente.
Mas não há como limpá-los totalmente. Não há faxina que os faça desaparecer. Não há como jogar pra debaixo do tapete. Como lidar com o quê fizemos?
"Pense antes de agir". Não é clichê, não é neurose, não é sistematico? É proteção? É racional? É humano e consciente? Pode até ser.
Mas é de uma não-graça...
A graça de acordar de manhã, olhar pra cortina, amarelada e cambaleante, e rir da própria cagada.
De ouvir críticas filosóficas infindáveis enquanto pensa em qual filme vai pegar na locadora. Não é ignorar conselhos, não é falta de educação.
É assumir a responsabilidade.
É aceitar e resolver se atirar em uma das duas possibilidades: dar a descarga ou se afogar na própria merda.
Mas os cacos continuam aí. No fundo eles incomodam. São aquelas sobras pontiagudas pequenininhas nos cantos e rodapés. Farelos das lembranças que os bem humorados levam na brincadeira e os desnaturados se martirizam ad aeternum.
Eu não tenho humor, mas tenho natureza. Tenho carne, osso, alma e coração. Tenho ciência de grande parte das minhas características. Principalmente das inventadas.
Sei que reciclei as minhas experiências para que se transformassem num vaso límpido.
E que amanhã eu poderei colocar nele meus botões de flores pra sorrir pra mim.

segunda-feira, agosto 02, 2010

Um p.s:

Vale lembrar que a realidade de um post atrás não é a mais nova.
Aquela lá não é mais eu.
Felizmente.

What a beautiful mess.

Tenho tantas perguntas e nenhuma coragem, ou talvez abertura para fazê-las. Talvez simplesmente elas não sejam tão necessárias, porque, no fundo, eu já saiba a resposta. Pra maioria delas, ao menos.
De uma forma ou de outra, elas ainda existem, me perseguem e enlouquecem. Me impedem de pensar em qualquer assunto que não articule minha mente até você.
E não é falta de assunto, mas excesso de sensações.
Não é uma história complicada ou incomum, eu reconheço. E isso me causa estranheza, pelo simples fato de eu não entender.
Ou não aceitar, tanto faz.
Não, eu não queria MESMO me envolver. Pouco antes eu já havia passado por situações complicadas demais, e a falta de estrutura emocional me afetava.
Eu tinha criado uma bolha, teoricamente impenetrável. Me enganei :(
Por dois motivos, lhe pedi um tempo. Auto-proteção (ou egoísmo, tanto faz também), e por te proteger. Acredite, eu pensei eu você nessa hora.
E, talvez, se não tivesse pensado tudo estivesse melhor. Menos pior. Igual.
Imaginar que refrear algo tão espontâneo fosse trazer qualquer consequencia satisfatória era pretensão demais.
Você se chateou, e isso me destruiu. Foi então que eu percebi que, por mais que um corte fosse necessário, eu NÃO O QUERIA.
Eu queria estar perto de você. Sentir seu cheiro, gosto, tato. Ouvir sua voz rouca perto, me arrepiar com a proximidade.
Voar junto com as borboletas em meu estômago.
Ignorei meu passado infeliz e resolvi dar um passo além do breu. Estourar a bolha que você já havia ultrapassado com a mesma facilidade que a chuva corta meu rosto num temporal.

Me pego pensando em você alguma vez. Algumas. Várias. Todas.
Saudade.

Alguma coisa errada, fugindo de controle. Ah, quem se importa? É ótimo.
Mas então a burrice, a coisa mais errada que eu poderia fazer.
Expressar.
Confesso que atualmente não é algo muito difícil para mim. Já foi. Acredite se quiser, mas já mantive muros em torno de mim.
E esses sim eram indestrutíveis.
Mas agora não vejo mais necessidade. Fugir dos maus momentos te leva a impedir que os bons também se aproximem.

Foi simples. Você não quis. Fiquei ressentida. Ainda estou, mas tanto faz, não é?
Se uma situação se repete, torna-se quase padrão, uma hora você se acostuma.
Estou me adaptando com a minha sorte equivalente à de um cego entre cactos venenosos. Só não vou me acomodar à falta de controle sobre mim.
Pra alguém que bloquiava sem dificuldades o que sentia, pelo simples fato de não querer preocupar ninguém, estou me saindo mal.
Desaprendi a lição. Esqueci como se contorna as emoções. Conheci quem sou e descobri que meu coração imbecil é masoquista.
Que o amor é suicida.

Não, eu não te amo. Sem essa. Eu sei o quão intenso pode ser o amor. Já senti, e não é TÃO assim.
Nem quase, pra dizer a verdade. Mas isso está sendo suficiente pra me mover. Ou pra me deixar estática, sem ação.

Os papéis se invertem. A caça vira caçador. O amante vira amado. O começo pode ser o fim de tudo.
O fim podia virar o começo, não acha?

Talvez a Ilha do Medo não tenha sido um bom começo. De medos e receios eu já estava cheia, precisava de certezas.
Que tal me dar algumas?

Mais um gole na bebida alcoolizada, feita pra esquecer. Sacudo a cabeça, e passo a pensar na merda adorável que fiz.
Ou no acerto destrutivo. Dá na mesma, é tudo tão inconstante e bipolar.

Pode fechar a conta, garçom; Já tomei minha dose insensata e passional de hoje.

Ah, chegou a hora. Vou passar alguns dos textos dos outros zibilhões de blogs que eu tenho pra cá. Espero não ter que repetir isso algum dia...

domingo, agosto 01, 2010

Was she asking for it?

To com saudade de você debaixo do meu... vá se foder.
Se você não sente, porque tenho eu que sentir?
Se você não ama, porque devo eu amar?
Se você não quer, porque preciso eu querer?
Só porque eu não tenho controle sobre mim mesma?
Só porque você entranhou em mim feito veneno crônico?
Só porque você é você e meu coração estúpido não sabe distinguir o quão sujo esse "você" é?

Ah, é.
Entendi.
Sem mais porquês.
Porco. Nojo. Argh, amor.

(Antiiiiigo. E revoltado, oh yea)

quinta-feira, julho 29, 2010

No escuro...

As luzes se apagaram e os sentidos ferviam intimamente. Ele sorria na escuridão; ela tinha medo. Qualquer toque seria uma descarga energética no corpo juvenil da menina. Ele estava preparado, era experiente. A mãe dela, superprotetora, nunca deixou que a menina se arriscasse, mas dessa vez uma viagem interrompeu os cuidados. A curiosidade afogou o receio maternal e aqui estava ela, pronta pra embarcar numa nova situação. Mas as expectativas eram diferentes. Para ele seria apenas mais uma vez. Para ela, sentimentos envolvem o jogo. A liberdade.
Começou. Ele tateando a escuridão e a menina, acanhada, se sente enclausurada, quente e perdida.
Ele está chegando cada vez mais perto, o que permite que a jovem sinta o ar quente que sai dos lábios do rapaz, bem como o cheiro de menta que invade o quarto. Um breu perfumado, bêbado com o cheiro das carnes frescas.
Um deslize e ele a toca. O choque. Uma risada.




- Te peguei! Tá com você agora!

domingo, julho 25, 2010

Happiness.

Ser feliz é mais do que um rosto sorridente,
Mais do que ter tudo na sua frente.
É poder se dizer inteiro
E fazê-lo sem motivo ou condição.
Felicidade não é algo que se encontra em cantos,
Mas o que se perde em contos, lembranças
E que por eles fica.
Capaz de isolar mentes
E levá-las pra outro plano, corpo ou pensamento.
Mais do que existir, ela nos permite ser.
Utópica, é a maxima da vida,
Ladra de almas e criadora de ilusões,
Onde está você, felicidade bandida?
Com suas milhões de infinitas versões,

É tudo que quiser e puder.
Abstrata, criação de nós mesmos.
Identidade do espírito.
Felicidade é mais do que um conceito ou sensação,
É a ideologia do coração.

Concordo com esse meu 'eu' de algum tempo atrás quando dizia que felicidade é invenção de nós mesmos, mas isso não anula a minha dependência dos outros pra ser _feliz_. Sim, porque são eles (ou vocês) que me impulsionam, que me são guia para minhas buscas, que projetam novos anseios, sonhos e tentações. Sem 'os outros', eu não seria eu. Minha formação seria outra. Eu teria outro formato. Ou nem o teria. Seria só um corpo a perambular, sem gosto, cheiro.
Sem ter com quem usar meu tato, olfato, paladar.
Sem fazer sentido.
Sem visão de mundo.
Um breu, um caos, um fim.
Mas vem ela. A luz que cega até a escuridão. Que é requisitada por toda e qualquer alma vivente. Sonho, pesadelo e insônia de consumo. Não pode ser consumida. Não tem validade, prazo ou termos de condição. Não vem com bula mas é remédio pra qualquer dor. O cientificismo se perde e é o romântico que se esbalda nesse mar de felicidade.
O único em que eu me afogaria com os lábios escancarados de sinceridade e os dentes mostrando que, enfim, tudo valeu a pena.

sábado, julho 24, 2010

The evening of the day.

Há quem diga que noite escuras remetem a solidão, melancolia. Também há aqueles que vivem das saídas no mais tardar das horas, querendo se perder por aí e depois colocar a culpa no breu. Mas, pra mim, a noite é dia. Tem cor, graça, cheiro de céu, gosto estrelado e uma luz tão forte como a solar. Lunado, ela faz de mim uma criança à beira da janela, contando pontinhos infindos e esperando que eles conversem comigo.
Mas não falam. Somente brilham e encantam.
Ganho minhas horas observando o caminhar das nuvens, sinuosas e carregadas pelo sopro dos céus. Uma respiração inconstante e fantasmagórica. As cortinas não se fecham, mas os olhos dão sinais de que estão cansados. Pesados, eles se calam. Seus gritos diante da obra infinita emudecem e, assim, preciso voltar pro meu canto e deixar a viagem lunática.
Afago o travesseiro, sinto o cheiro da manhã que virá e durmo.

Há quem diga que o dia ensolarado é bom pra quem não tem rotina. Também há aqueles que ficam putos por não ter como aproveitar a chance, e perdem seu tempo reclamando de suas próprias escolhas. Mas, pra mim, dia é noite. Tem sabor de esperança, tintura de imensidão e sua temperatura é capaz de manter quente o mais gelado dos corações. Ele me abraça com a natureza, envolve meus braços com o pôr-do-sol e me protege, projetando minha sombra aonde quer que vá pra que não me sinta só.

Aos tais "d'aqueles que dizem", o dia não tem humor, então não o culpe por suas frustrações ou problemas. Não foi a noite quem disse adeus pra quem não devia e agora se rói por arrependimentos. As horas não merecem ser julgadas pelo seu ócio ou atordoações, bem como o tempo não é reflexo das suas necessidades. A lei de Murphy não foi capaz de domar a natureza, o que significa que a chuva não cai porque você tem planos ensolarados. Ela simplesmente cai, e não deixaria de fazê-lo se você tivesse comprado o mais bonito dos guarda-chuvas.

A madrugada não é feita para apenas dormir, sair ou assaltar a geladeira. É feita pra viver e dar um descanso pra noite que se foi e pra manhã que está por vir. Feita para nos afogarmos nas pelúcias, enquanto extraimos as mágoas e exasperações. Pra ligar pros amigos, familiares, amores e desconhecidos. Conhecê-los e fazer deles parte da sua agenda telefônica, da cartilha do coração. Pra sorrirmos sozinhos, sem motivo nem perguntas. Ou para, simplesmente, existirmos.


Se souber aproveitar cada instante, o dia beija a noite num relance e tudo pode acontecer. Por isso, não me preocupo com o que o relógio marca; está sempre na hora.

sexta-feira, julho 23, 2010

Sans frontières.

Para muitos um motivo para esquecer,
Para nós a causa de tamanha vontade de se ver.
Saudade que invade
E traz sempre aquela lembrança calma.
Memória que me aquece a alma.
Que nutre meus pensamentos.
Que não me deixa voar sem estar contigo.

A distância é algo inexistente
Como o tempo;
Por mais que nós o usemos,
Não há como contá-lo nem como pará-lo,
Assim como esse espaço que nos separa e, ao mesmo tempo,
Faz-nos amar.

Uma distância que separa corpos,
Mas não sentimentos.
Que limita carícias,
Mas eterniza momentos.
Uma distância vulgar,
Mas que segue-se suntuosa pela capacidade de atrelar nossos anseios.

Uma distância que completa o imperfeito
Uma extensão de limites, fronteiras, e sonhos.

quinta-feira, julho 22, 2010

Lire de lui-même.

Às vezes, inventamos maneiras pra dizer sempre "não" por ter medo do "sim".
No entanto, o que agora me afronta não é a afirmação, mas o início do fim.

Pode parecer conformismo ou uma espécie de masoquismo adaptativo, mas internamente o vejo como um mecanismo de defesa, de proteção. Por mais que a situação não esteja perfeita, é mais seguro se manter nela até que algo concreto apareça e me tome nos braços, me tirando dessa prisão. Uma enrascada de sentimentos, que assola todas as partes do meu corpo. Que prende minhas mãos junto ao peito e a mente atada às falanges desesperadas. Tudo treme.
Tremor. Amor. Que seja.
Está bem, não é amor. Nunca foi, espero que não tente ser.
Faz falta, incomoda, subordina e limita, mas não me cega, felizmente.
Só estou nessa por medo, reconheço. Já cometi esse erro uma vez.
Estava segura, arrisquei, perdi tudo.
O tal do certo pelo maldito duvidoso.
Mas não arrisquei relações, amizades, contratos, números, matéria.
Pus a perder meu eu.
Aquele que gritava por alguém que é surdo, que chorava por um coração duro e pedia respostas de uma alma muda.
Aquele que planejava discursos poéticos, com o propósito de tornar tudo o mais próximo das histórias infantis. Pena que não há mocinhos. Nem sempre o final feliz é garantido.
Pelo menos não na mesma história.

Me disponho, então, a mudar de livro. Escrevê-lo com cautela, mas sem temer as páginas seguintes. O enredo se dará de acordo com as linhas tortas que irei preencher. A caligrafia mais polipolar, as lacunas, os garranchos apressados. Os capítulos pulados, apagados ou repetidos pra afirmar tudo que representaram. O clímax.
Autora naturalmente desenfreada que acaba estagnando por um simples embate de idéias. Uma crítica, uma distração. Uma tirinha ou passatempo, pode-se dizer.
Mas não estou mais pra brincadeiras, palavras cruzadas ou contadas no fim do livro. Não quero algo com três cenas, frases de acaso ou um fim escusado.
Não quero uma série. Quero um enelogia sem fim.

E não mais temo porque o início do fim sou eu quem dita. Minhas ações transcritas no rascunho da vida não se apagam com o tempo, nem mesmo se acumularem poeira na estante da memória.
Não há editora, publicação em larga escala ou selo de comprovação. Não merece prêmio Nobel ou fãs histéricas. São algumas muitas páginas, que transpiram sentimentos e valores. Que absorvem minhas lágrimas e fotografam os sorrisos. Que não podem ser amassadas ou rasgadas pois tem o dom de ressurgir. Aliás, nunca somem. É impossível não lembrar do que nunca se esqueceu.
E mesmo que se esqueça, a história é imutável e didática. Aprender com cada fala e episódio dessa bíblia passional é missão de sobrevivência. Páginas que, no fim de tudo, vão refletir quem fui e quis ser, o que pude, quis e sonhei em fazer. Os anseios de uma leitora de si própria.
São só algumas páginas.
É só a minha vida.

Como se fosse pouco.

quinta-feira, junho 03, 2010

Recovery.

É incrível como pequenas situações te fazem crescer e violar as regras da constância e a inflexibilidade da razão. Me chamam de idiota por gostar de quem me faz mal. Por tratar bem que fez de mim um degrau. Por utilizar frases feitas como essas. Por não tem um estilo musical concreto. Por conviver com gente estereotipada. Por fazer parte de uma esfera rotulada e não me atentar com isso.
Numa boa, me deixa. Eu adoro meus amigos playboys, emos, pagodeiros, nerds, complexados, sádicos, autistas. Eu adoro gente. A minha gente, pelo menos.
É, porque tem uma 'outra' gente que eu não quero mais não. Essa gente que gosta de colocar tarjas nos outros mas que é incapaz de tirar a própria. Se você é assim, bato palmas, eu te acho um grandissíssimo imbecil. Merece um troféu. Clap clap.
Ah, e tem também aqueles que gostam de crescer sobre os outros. Que usam de qualquer brecha pra se fazer notar. Que a arrogância salta pela fresta. Covardes que batem no inimigo quando ele está caído.
Há quem você confiou seu coração e que fez dele papel. Rabiscou, não gostou do desenho. Merda, não dá pra apagar. Amassa, rasga, queima. Taca fora.

E, por incrivel que pareça, eu não tenho ódio de gente assim. Eu sinto pena. Talvez isso seja pior.
Você já fez parte de mim. Me fazia respirar entoando uma música apaixonada. Depois soluçar uma melodia trágica, dramática. Agora a sonoplastia é o riso.
Acho graça de como tudo aconteceu. Foi de repente. Se foi assim também.
Não teve rima, mas pelo menos os versos me serviram de lição.

Agora eu tô em reconstrução.

sábado, maio 29, 2010

MusicAmando.

É quando as coisas estão trêmulas que a gente percebe o quão pequenos momentos de solidão acabam se tornando influentes. Eu não tava legal, o que não vem sendo novidade. Pra falar a verdade, esse ano tá bem diferente do que eu esperava. Ou queria.
Inicialmente, as coisas estavam ótimas. Boas mesmo, com sorrisos inabaláveis e uma felicidade capaz de contagiar seres inanimados. Mas ai foi murchando... Meu botão de alegria acabou se fechando, sabe-se lá o que lhe faltava.
Talvez o solo da minha alma estivesse infértil, pode ser.
Dias que eu não tinha vontade de sair, acordar, respirar. E se tentasse fazê-lo, meus pulmões clamavam de dor por estarem sentindo sua existência obrigatória. Eles não queriam ser penetrados por esse ar gratuito e ácido. Cheio de poeira, lembranças, dor.
Pra acalmar meus órgãos contrariados, uma trilha sonora.
Ah, música. Como palavras melódicas de 3 minutos podem me fazer rever todos meus planos e pensamentos de uma forma tão avassaladora?
Isso é encantador.
A capacidade que um cara d'outro canto do mundo tem em fazer com que eu pense sobre tudo que fiz, quis ou deva é impressionante. Ele nem me conhece mas seus conselhos cantarolados me guiam. Me projetam novamente, com fôlego pra viver tudo quantas vezes for preciso. Me dão forças, me fazem acordar.
Palavras doídas, às vezes. Letras que compartilham situações e sentimentos. É aí que noto que meus dilemas não são tão meus assim. Ao mesmo tempo que alivia saber que há solução, acabo me frustrando e trazendo à mente a famigerada pergunta: "Porquê comigo?".
Tentar entender. Depois de um tempo, a pergunta certa virou "Porquê não?". Porquê não tentar tirar algum proveito dessa situação? Porquê não aceitar que essa não era pra ser minha realidade? Porquê não crer que não era pra ser você?

Não é tão mais fácil chorar pela perda do que limpar as lágrimas e procurar um novo desejo. Talvez dê menos trabalho, seja mais automático, mas não é o melhor.

Automático. Isso me lembra que coloquei Secondhand Serenade e acabei largando o fone sobre a mesa.
Tá na hora de desligar o silêncio e tocar o disco.
Tocar a vida.
Tocar você de mim.

I tried to be
I can't get you out of my lonely mind
I'm suffering
How did I die
(End - Secondhand Serenade)

B&W

Tudo azul.
Nada muda. Frustrante.
Tentativas em vão, a todo instante.
Mudei de roupa, pintei o quarto.
Nada adiantou, que parto.
Parei pra pensar.
Qual é o problema?
Que razão tenho eu, pra tamanho dilema?
E deixei o azul me tomar.
Fiquei eu, e o meu não diferenciar.
Vi que se não fizesse nada,
Os outros iam mudar.
Resolvi-me. Entendi-me.
Na praça, sentei-me no banco.
Olhava pro nada, eu era diferente.
Preto no branco.
Virei gente.


Essay.

Muita gente vive dizendo que adolescente não tem quase nada pra contar pelo pouco tempo que teve nesse mundo até então. O que toda essa gente não sabe que, pra viver, basta um minuto, desde que seja o mais intenso possível. Sem clichês.
Um abraço esperado, o cheiro de nossos anseios tomando conta do ambiente. Vivem falando que um olhar diz tudo, não é? Olhares não duram uma vida inteira porque nós somos feitos de inconstâncias. Mas, com certeza, na memória de quem quer que seja ele ficará eternizado. Olhares são mais do que olhos percorrendo nosso rosto, são câmeras biológicas filmando nossa alma em uma busca insaciável pelo desconhecido, íntimo, confidencial. Os adolescentes vivem tanto quanto um senhor de 80 anos, porque o dia tem vinte e quatro horas pra ambos. Só que o vovô já teve algumas mais do que o jovem, claro. Isso não impede desse último sentir tanta intensidade nos acontecimentos, de saber que entre nascer, crescer, reproduzir e morrer existe o “ser”. Ser quem imaginar, quiser, puder. Enfrentar à si próprio, seus medos, egos e verdades.
Enquanto os pais desses novatos (em termos de mundo) pagam-lhe as contas de luz, gás e telefone, eles descobrem que são a-lunos, seres sem luz e que precisam ser orientados pelo mundo afora. Que o “gás” que os move é a procura incansável pelo novo. Eles sabem que são o futuro, mas não querem que lhes imponham o destino, os problemas e limites. Aliás, essa é uma palavra que eles detestam. Tarjas que os impedem de fazer se o quiserem. Quem é que gosta de ser impedido da felicidade?
Se te disserem que não podes, involuntariamente vai querê-lo. O divertido é o anteparado.

E quem lhe diz isso é uma garota de 16 anos.

Lessons.

Tudo que vem, renova e passa
E tudo que passa deixa saudade.
Tenha sido bom ou mal, serviu de aprendizado.
O que quer dizer que aprender renova a história da saudade
E que a saudade aperta, quando a história aprende a ter um fim.

12 horas e 59 minutos.

Um minuto pra outra hora. Outra hora, coberta de 6O outros minutos, que cada um contém seus outros 6O segundos, o quê resume em tantos outros 36OO segundos por hora. Não sou matemática, mas isso é tão básico quanto saber seu nome. Por isso que eu não tenho um fixo.
Posso ser Maria Elisa, Maria, Elisa, Marie, Lili, Mari, Mia, Ma, M, Anita, Camila, Fernanda, Leticia, qualquer uma, qualquer outra, psiu!, você, ei, nada.
Que seja, isso não vai mudar a minha história. Mas voltemos para o tempo.
Enquanto você lê isto aqui, o mundo continua com sua incansável rotação. Esse segundo nunca mais vai voltar. Ah, como eu detesto essa palavra. Ela me amedronta e instiga a idéia de que não sou mais a mesma. Nem você é. E que estamos cada vez mais próximos do começo do fim.
A cada instante as pessoas falam, respiram, soluçam, choram, riem, tem orgasmos, fazem planos, comem macarronada, batem com o tapete na janela, escrevem cartas, descobrem-se enamoradas e percebem que tá na hora de parar de existir para, enfim, viver.
Vez em quando eu paro pra pensar o quê Alguém estaria fazendo. E se esse Alguém precisa de mais outro Alguém. E se esses Alguém's precisam de mim. Me sinto tão inútil e pequena diante desses pensamentos...
E talvez eu nunca vá saber, o tempo é ligeiro, não sossega. Hiperativo e inconstante.
Se nesse instante estamos aqui, quem sabe n'outro o quê pode acontecer?
Paremos pra pensar também no quê poderíamos estar fazendo nesse momento, se isso mudaria o próximo, ou quem sabe só seja desperdício. Aliás, desperdício de tempo... Isso existe?
Tempo taí, é pra ser usado. Ninguém pode chegar e falar que roubou seu tempo e só vai devolver depois de gastá-lo e a bateria pifar.
Tempo não é movido à bateria. Tempo é tempo, sei lá de quê é feito. Quero dizer, o que se sabe é que é marcado em dias, horas e coisa e tal. Mas isso não é a sua matéria. Aliás, tempo tem matéria? É, pelo visto eu não tive tempo suficiente pra saber disso também...
Mas então me pergunto:
Se tempo não tem matéria, não podemos vê-lo, nem apalpá-lo, como pode ele nos tocar de tantas maneiras árduas e infecciosas? Vivemos num mundo onde tudo merece mais tempo pra ser visto, vestido e sentido.
Os dias nos parecem curtos, minúsculos... (H)Ora essa, quer dizer que devemos dar alguns hormônios pro dia? O tempo passa, não pára, nem espera por ninguém.
As mulheres reclamam que estão velhas, antigas, passadas. Coisa do tempo, ele que diz. Os homens protestam que não viveram o suficiente pra ter em mãos todas as mulheres do mundo. Fica a idéia de que existe uma ampulheta que apita quando a gente envelhece. E eu não reclamo, não protesto nem me revolto.
Quando me perguntam quantos anos tenho, não sei responder. Já tive 15, mas o quê tenho pela frente, só Deus e o protagonista desse escrito sabem.

36OO segundos. É incrível a idéia de que posso usá-los como bem entender.
Pra você pode parecer só mais uma hora perdida. Mais rugas, menos mulheres, planos desfeitos pela idéia morbida do fim.
Tanta gente que ganha o tempo pensando em nada. Mais útil construir essas horas com instantes a serem marcados, lembrados, e por vezes esquecidos por alto mas ainda existentes na estante da memória.
Por isso, lhe pergunto: Aqui tá frio, e o seu tempo, como vai?

domingo, maio 23, 2010

Por aí.

Eu vejo tudo tão farto e cinza,
E me tarjam de dona d'uma baixa auto-estima.
Nas antiteses da personalidade me construo,
E vou.
Se o sol me dão,
Solidão.
Se a alma encanta,
Canta e chora,
Se apavora,
E dorme pra não sonhar.
É engraçado. É desgraçado.
Se me faço rir é pra esconder o pranto,
Mas se choro, ah não, não choro.
Ou talvez o faça, não vai saber.
Estou sozinha, eu e meu sol apagado.
Escondida, perdida, num canto afogado.
Tão cheio de
mim.

sábado, maio 22, 2010

Amor,

Sem ponto nem final, mas na vírgula em que se pausa, se enclausura, afoga-se e sobrevive; No máximo um ponto-e-vírgula, que dá tempo pra respirar, refletir e ver em meu espelho que nada mais sou do que uma caixa chacoalhante de ossos quando você não está; Você, que leva minha alma sempre que desaparece; Que carrega na própria respiração meu fôlego; Depois de amor, uma vírgula; Pontuação que chama, convida e te traz pra mim; Ou deveria fazê-lo, a não ser que, enfim, chegue o
fim.

-
Reviravoltas, ora merda. Eu odeio me apaixonar, desapaixonar e reapaixonar. Tudo pela mesma pessoa.


You came to me and I started to feel
That my senses had left me to die
Where is my strength when I need it the most?
Tell me what have you done with my mind?
(Save me now - Andru Donalds)

_
A: Voltei.
B: Daonde?
A: De você. Tinha me escondido ai, acabei me perdendo mas já me achei. Do lado de fora.
B: Saiu de mim e eu nem percebi?
A: Normal...
B: Vai ver você não saiu, realmente.
A: Estou certa de que sim.
B: Mas porquê?
A: Você continua sem me querer.
B: Isso é motivo?
A: Porquê não seria? Tô tentando viver sem esse masoquismo passional.
B: Bela definição para amor.
A: Péssima frase pretensiosa.
B: Não é pretensão, é constatação.
A: Então constate que não existe mais em mim.
B: Isso não é voluntário. Se eu quiser ficar, eu fico.
A: Que arrogância.
B: Me deixa.
A: Te deixar o quê?
B: Ficar aí.
A: Porquê?
B: Porquê talvez eu ainda te faça feliz...
A: O 'talvez' já destrói essa possibilidade imediata.
B: Não é algo pra agora.
A: Pra depois eu não sei mais.
B: Por favor...
A: Porquê a insistência? Foi você que não quis...
B: Vai ver você não saiu, realmente.
A: Estou certa de que sim.
B: Se achou do lado de fora mas eu te puxei para dentro.
A: Mas eu não deixei...
B: Isso não é voluntário.
A: Vamos ficar dando voltas?
B: Prefiro seguir em frente.
A: Eu também.
B: Vamos juntos?
A: Deixa eu voltar então.
B: Daonde?
A: Da minha bolha racional... Novamente, vou deixá-la. Por você.

domingo, maio 09, 2010

Leo, Lels, leal.

Compartilhando o prazer de escrever.
Obrigada por tudo, Lels.

(Legenda desnecessária. Vamos lá, são as iniciais. Prazer, Mia.)


L: Hoje seria um péssimo dia pra morrer.

M: E existe dia bom pra isso?

L: O dia em que notarmos que não temos mais nada pra fazer.

M: Morrer de tedio? Que sem graça...

L: Ninguem controla sua morte, se a pessoa não morre naturalmente, é sempre a falta do que fazer ou, pelo menos, a sensação disso.

M: Mas o tedio é controlável. Bem mais heróico morrer fazendo a diferença do que esperando, apático, o que fazer.

L: Quando a pessoa perde a capacidade de fazer a diferença na própria vida, ela não teria mais como fazer uma diferença maior, é ai que entra o tedio que mata tanta gente.

M: Tedio não mata. O que mata é deixar ser consumido por ele. Eu fujo da falta do que fazer. Eu me faço, desfaço, não me acho. Mas também não espero que me encontrem.

L: Tedio não é algo escolhido, portanto ser morto ao ser consumido por ele é ser morto por ele em si, já que você não deixou isso acontecer. Você pode ter resistido mas ele foi mais forte. Isso geralmente acontece quando você perde a capacidade de fazer algo, quando você perde a confiança do mundo. Caso isso aconteça, não ha como ir contra o que tenta lhe destruir. Felizmente não é meu caso.

M: Mas ai você não morreu de tédio, mas de desmotivação. O tedio pode ser quebrado com um simples sonho, pensamento. Não ser capaz de fazer algo é bem diferente de não querer fazê-lo. E os desejos nos levam pra frente.

L: Já vi certas pessoas que perderam a capacidade de sonhar, ou melhor, tiveram ela arrancada, afinal, não é algo que as pessoas escolham.

M: Eu já passei por isso. Logo eu, que dormia só pra poder sonhar... Mas então eu acordei e...

L: E?

M: E fui capaz de perceber que sonhos existem quando estamos acordados também. Meu prazer em fantasiar é constante e é o que me dá forças pra fazer a tal da diferença. E você? Daonde vem sua força?

L: Do mesmo lugar que a sua, a unica diferença é a forma de encarar. Não vejo como um fantasiar constante, e sim como a realidade, pois estamos acordados no mundo real e temos que tirar força dela de duas formas: Das coisas boas que acontecem pra nos motivar a leva-las aos outros, e das coisas ruins que acontecem pra nos fazer combate-las.

M: E faz diferença estarmos de olhos fechados ou abertos? Deixa de ser sonho se não estamos dormindo? Tem tanta gente que se aliena com o olhar arregalado...

L: Porém só é alienado quem está com o olho fechado e o cérebro parado, abra sua mente e seus olhos ao mesmo tempo, que todo o vestigio de alienação que tentaram lhe lançar será levado pelo vento.

M: Pode ser, mas as vezes um sonho é muito mais esclarecedor que um jornal informativo que, teoricamente, retrata a realidade nua, crua e enlameada.

L: E quem disse que me baseio em jornais? Me baseio no que meus olhos me deixam ver, minhas mãos deixam sentir e minha mente deixa compreender.

M: Sem um desses sentidos, então, a gente se torna alienado? Mas poxa... Meus sonhos são sempre tão reais.

L: Seus sonhos são reais quando você se esforça pra torna-los assim, quando você busca felicidade, você faz isso?

M: Só quando não estou entediada...

L: Alguem que ainda tem forças pra sonhar mesmo entediado? O que te leva a ser assim?

M: Porque ao menos no sonho eu consigo fazer a diferença que meu corpo nao permite.

L: Então não acha que chegou a hora de buscar ajuda? O corpo as vezes não se movimenta até o final sem ajuda.

M: Quer me ajudar? Quer fazer parte do meu sonho real?

L: Sempre quis, me juntar a você para fazer nossos sonhos reais te fazerem mais feliz.

M: Mas você não precisa fazer nada, você já é o meu sonho.

L: O que quero fazer é transformar esse sonho em uma realidade para ambos.

M: Então transforme. Me transforme.

L: Não sei se três palavras algum dia bastariam pra mostrar o quanto eu quero isso, mas, direi-as: Eu te amo!

M: Se elas não bastam, só me restam as reticências porque não há mais nada a ser dito...

L:Então usarei o ponto final pra mostrar que não há mais o que dizer, e sim o que fazer, e é fazer dessa realidade uma realidade melhor para nós dois.

M: É o fim... Do começo.

quinta-feira, maio 06, 2010

O quê é por não ser.

A: É.
B: É?
A: Não é.
B: Porquê?
A: Porquê o que?
B: Porquê não é?
A: Não é pra ser...
B: Quem disse?
A: Não precisa dizer.
B: Como sabe?
A: Não preciso saber.
B: ...
A: Eu sinto.
B: O quê?
A: Que não é.
B: Não é o quê?
A: Meu.
B: O quê?
A: Tudo.
B: Tudo o quê?
A: O que eu quero.
B: E porquê quer?
A: Porquê não é pra querer.
B: Não?
A: Não.
B: Entendo.
A: Mesmo?
B: Não, mas deixa pra lá.
A: Ah é?
B: Não, não é. Mas deixa.
A: Eu sempre deixo.
B: Sorte a sua.
A: Que nada, desistir não é bom.
B: Só do que é pra ser.
A: Mas tudo que eu quero não é pra ser.
B: Você não sabe o quê quer.
A: Não, eu só não sei escolher.

quarta-feira, maio 05, 2010

Felicidade.

A: Parabéns!
B: Pelo o quê? Não é meu aniversário...
A: E precisa ser pra você comemorar?
B: Comemorar o quê?
A: Mais um dia de respiração.
B: Respirar não é sinal de felicidade.
A: Mas é fator crucial pra você buscá-la.
B: Posso ser feliz em outra dimensão.
A: Não viaja.
B: Não é viagem.
A: É um passeio por pensamentos idiotas, então.
B: E o quê é felicidade pra você?
A: Respirar.
B: Porquê isso é tão importante?
A: Porque eu não inspiro apenas O2. Eu absorvo felicidade gaseificada.
B: Aonde a encontra?
A: Em sorrisos, abraços, carinhos.
B: De quem?
A: E importa?
B: Aceita de qualquer um?
A: Felicidade é bônus.
B: Não, felicidade é necessidade.
A: E respirar?
B: Também.
A: Agora concorda comigo?
B: Acho que sim. Tô indo.
A: Fazer o quê?
B: Resolvi respirar também.
A: Boa viagem.
B: É só um passeio por pensamentos idiotas.
A: E com destino à alegria.