Comprimidos

Leia a bula.

Ao persistirem os sintomas, procure um médico que saiba responder algo além de "deve ser amor".
Que coisa doentia.

sábado, maio 29, 2010

MusicAmando.

É quando as coisas estão trêmulas que a gente percebe o quão pequenos momentos de solidão acabam se tornando influentes. Eu não tava legal, o que não vem sendo novidade. Pra falar a verdade, esse ano tá bem diferente do que eu esperava. Ou queria.
Inicialmente, as coisas estavam ótimas. Boas mesmo, com sorrisos inabaláveis e uma felicidade capaz de contagiar seres inanimados. Mas ai foi murchando... Meu botão de alegria acabou se fechando, sabe-se lá o que lhe faltava.
Talvez o solo da minha alma estivesse infértil, pode ser.
Dias que eu não tinha vontade de sair, acordar, respirar. E se tentasse fazê-lo, meus pulmões clamavam de dor por estarem sentindo sua existência obrigatória. Eles não queriam ser penetrados por esse ar gratuito e ácido. Cheio de poeira, lembranças, dor.
Pra acalmar meus órgãos contrariados, uma trilha sonora.
Ah, música. Como palavras melódicas de 3 minutos podem me fazer rever todos meus planos e pensamentos de uma forma tão avassaladora?
Isso é encantador.
A capacidade que um cara d'outro canto do mundo tem em fazer com que eu pense sobre tudo que fiz, quis ou deva é impressionante. Ele nem me conhece mas seus conselhos cantarolados me guiam. Me projetam novamente, com fôlego pra viver tudo quantas vezes for preciso. Me dão forças, me fazem acordar.
Palavras doídas, às vezes. Letras que compartilham situações e sentimentos. É aí que noto que meus dilemas não são tão meus assim. Ao mesmo tempo que alivia saber que há solução, acabo me frustrando e trazendo à mente a famigerada pergunta: "Porquê comigo?".
Tentar entender. Depois de um tempo, a pergunta certa virou "Porquê não?". Porquê não tentar tirar algum proveito dessa situação? Porquê não aceitar que essa não era pra ser minha realidade? Porquê não crer que não era pra ser você?

Não é tão mais fácil chorar pela perda do que limpar as lágrimas e procurar um novo desejo. Talvez dê menos trabalho, seja mais automático, mas não é o melhor.

Automático. Isso me lembra que coloquei Secondhand Serenade e acabei largando o fone sobre a mesa.
Tá na hora de desligar o silêncio e tocar o disco.
Tocar a vida.
Tocar você de mim.

I tried to be
I can't get you out of my lonely mind
I'm suffering
How did I die
(End - Secondhand Serenade)

B&W

Tudo azul.
Nada muda. Frustrante.
Tentativas em vão, a todo instante.
Mudei de roupa, pintei o quarto.
Nada adiantou, que parto.
Parei pra pensar.
Qual é o problema?
Que razão tenho eu, pra tamanho dilema?
E deixei o azul me tomar.
Fiquei eu, e o meu não diferenciar.
Vi que se não fizesse nada,
Os outros iam mudar.
Resolvi-me. Entendi-me.
Na praça, sentei-me no banco.
Olhava pro nada, eu era diferente.
Preto no branco.
Virei gente.


Essay.

Muita gente vive dizendo que adolescente não tem quase nada pra contar pelo pouco tempo que teve nesse mundo até então. O que toda essa gente não sabe que, pra viver, basta um minuto, desde que seja o mais intenso possível. Sem clichês.
Um abraço esperado, o cheiro de nossos anseios tomando conta do ambiente. Vivem falando que um olhar diz tudo, não é? Olhares não duram uma vida inteira porque nós somos feitos de inconstâncias. Mas, com certeza, na memória de quem quer que seja ele ficará eternizado. Olhares são mais do que olhos percorrendo nosso rosto, são câmeras biológicas filmando nossa alma em uma busca insaciável pelo desconhecido, íntimo, confidencial. Os adolescentes vivem tanto quanto um senhor de 80 anos, porque o dia tem vinte e quatro horas pra ambos. Só que o vovô já teve algumas mais do que o jovem, claro. Isso não impede desse último sentir tanta intensidade nos acontecimentos, de saber que entre nascer, crescer, reproduzir e morrer existe o “ser”. Ser quem imaginar, quiser, puder. Enfrentar à si próprio, seus medos, egos e verdades.
Enquanto os pais desses novatos (em termos de mundo) pagam-lhe as contas de luz, gás e telefone, eles descobrem que são a-lunos, seres sem luz e que precisam ser orientados pelo mundo afora. Que o “gás” que os move é a procura incansável pelo novo. Eles sabem que são o futuro, mas não querem que lhes imponham o destino, os problemas e limites. Aliás, essa é uma palavra que eles detestam. Tarjas que os impedem de fazer se o quiserem. Quem é que gosta de ser impedido da felicidade?
Se te disserem que não podes, involuntariamente vai querê-lo. O divertido é o anteparado.

E quem lhe diz isso é uma garota de 16 anos.

Lessons.

Tudo que vem, renova e passa
E tudo que passa deixa saudade.
Tenha sido bom ou mal, serviu de aprendizado.
O que quer dizer que aprender renova a história da saudade
E que a saudade aperta, quando a história aprende a ter um fim.

12 horas e 59 minutos.

Um minuto pra outra hora. Outra hora, coberta de 6O outros minutos, que cada um contém seus outros 6O segundos, o quê resume em tantos outros 36OO segundos por hora. Não sou matemática, mas isso é tão básico quanto saber seu nome. Por isso que eu não tenho um fixo.
Posso ser Maria Elisa, Maria, Elisa, Marie, Lili, Mari, Mia, Ma, M, Anita, Camila, Fernanda, Leticia, qualquer uma, qualquer outra, psiu!, você, ei, nada.
Que seja, isso não vai mudar a minha história. Mas voltemos para o tempo.
Enquanto você lê isto aqui, o mundo continua com sua incansável rotação. Esse segundo nunca mais vai voltar. Ah, como eu detesto essa palavra. Ela me amedronta e instiga a idéia de que não sou mais a mesma. Nem você é. E que estamos cada vez mais próximos do começo do fim.
A cada instante as pessoas falam, respiram, soluçam, choram, riem, tem orgasmos, fazem planos, comem macarronada, batem com o tapete na janela, escrevem cartas, descobrem-se enamoradas e percebem que tá na hora de parar de existir para, enfim, viver.
Vez em quando eu paro pra pensar o quê Alguém estaria fazendo. E se esse Alguém precisa de mais outro Alguém. E se esses Alguém's precisam de mim. Me sinto tão inútil e pequena diante desses pensamentos...
E talvez eu nunca vá saber, o tempo é ligeiro, não sossega. Hiperativo e inconstante.
Se nesse instante estamos aqui, quem sabe n'outro o quê pode acontecer?
Paremos pra pensar também no quê poderíamos estar fazendo nesse momento, se isso mudaria o próximo, ou quem sabe só seja desperdício. Aliás, desperdício de tempo... Isso existe?
Tempo taí, é pra ser usado. Ninguém pode chegar e falar que roubou seu tempo e só vai devolver depois de gastá-lo e a bateria pifar.
Tempo não é movido à bateria. Tempo é tempo, sei lá de quê é feito. Quero dizer, o que se sabe é que é marcado em dias, horas e coisa e tal. Mas isso não é a sua matéria. Aliás, tempo tem matéria? É, pelo visto eu não tive tempo suficiente pra saber disso também...
Mas então me pergunto:
Se tempo não tem matéria, não podemos vê-lo, nem apalpá-lo, como pode ele nos tocar de tantas maneiras árduas e infecciosas? Vivemos num mundo onde tudo merece mais tempo pra ser visto, vestido e sentido.
Os dias nos parecem curtos, minúsculos... (H)Ora essa, quer dizer que devemos dar alguns hormônios pro dia? O tempo passa, não pára, nem espera por ninguém.
As mulheres reclamam que estão velhas, antigas, passadas. Coisa do tempo, ele que diz. Os homens protestam que não viveram o suficiente pra ter em mãos todas as mulheres do mundo. Fica a idéia de que existe uma ampulheta que apita quando a gente envelhece. E eu não reclamo, não protesto nem me revolto.
Quando me perguntam quantos anos tenho, não sei responder. Já tive 15, mas o quê tenho pela frente, só Deus e o protagonista desse escrito sabem.

36OO segundos. É incrível a idéia de que posso usá-los como bem entender.
Pra você pode parecer só mais uma hora perdida. Mais rugas, menos mulheres, planos desfeitos pela idéia morbida do fim.
Tanta gente que ganha o tempo pensando em nada. Mais útil construir essas horas com instantes a serem marcados, lembrados, e por vezes esquecidos por alto mas ainda existentes na estante da memória.
Por isso, lhe pergunto: Aqui tá frio, e o seu tempo, como vai?

domingo, maio 23, 2010

Por aí.

Eu vejo tudo tão farto e cinza,
E me tarjam de dona d'uma baixa auto-estima.
Nas antiteses da personalidade me construo,
E vou.
Se o sol me dão,
Solidão.
Se a alma encanta,
Canta e chora,
Se apavora,
E dorme pra não sonhar.
É engraçado. É desgraçado.
Se me faço rir é pra esconder o pranto,
Mas se choro, ah não, não choro.
Ou talvez o faça, não vai saber.
Estou sozinha, eu e meu sol apagado.
Escondida, perdida, num canto afogado.
Tão cheio de
mim.

sábado, maio 22, 2010

Amor,

Sem ponto nem final, mas na vírgula em que se pausa, se enclausura, afoga-se e sobrevive; No máximo um ponto-e-vírgula, que dá tempo pra respirar, refletir e ver em meu espelho que nada mais sou do que uma caixa chacoalhante de ossos quando você não está; Você, que leva minha alma sempre que desaparece; Que carrega na própria respiração meu fôlego; Depois de amor, uma vírgula; Pontuação que chama, convida e te traz pra mim; Ou deveria fazê-lo, a não ser que, enfim, chegue o
fim.

-
Reviravoltas, ora merda. Eu odeio me apaixonar, desapaixonar e reapaixonar. Tudo pela mesma pessoa.


You came to me and I started to feel
That my senses had left me to die
Where is my strength when I need it the most?
Tell me what have you done with my mind?
(Save me now - Andru Donalds)

_
A: Voltei.
B: Daonde?
A: De você. Tinha me escondido ai, acabei me perdendo mas já me achei. Do lado de fora.
B: Saiu de mim e eu nem percebi?
A: Normal...
B: Vai ver você não saiu, realmente.
A: Estou certa de que sim.
B: Mas porquê?
A: Você continua sem me querer.
B: Isso é motivo?
A: Porquê não seria? Tô tentando viver sem esse masoquismo passional.
B: Bela definição para amor.
A: Péssima frase pretensiosa.
B: Não é pretensão, é constatação.
A: Então constate que não existe mais em mim.
B: Isso não é voluntário. Se eu quiser ficar, eu fico.
A: Que arrogância.
B: Me deixa.
A: Te deixar o quê?
B: Ficar aí.
A: Porquê?
B: Porquê talvez eu ainda te faça feliz...
A: O 'talvez' já destrói essa possibilidade imediata.
B: Não é algo pra agora.
A: Pra depois eu não sei mais.
B: Por favor...
A: Porquê a insistência? Foi você que não quis...
B: Vai ver você não saiu, realmente.
A: Estou certa de que sim.
B: Se achou do lado de fora mas eu te puxei para dentro.
A: Mas eu não deixei...
B: Isso não é voluntário.
A: Vamos ficar dando voltas?
B: Prefiro seguir em frente.
A: Eu também.
B: Vamos juntos?
A: Deixa eu voltar então.
B: Daonde?
A: Da minha bolha racional... Novamente, vou deixá-la. Por você.

domingo, maio 09, 2010

Leo, Lels, leal.

Compartilhando o prazer de escrever.
Obrigada por tudo, Lels.

(Legenda desnecessária. Vamos lá, são as iniciais. Prazer, Mia.)


L: Hoje seria um péssimo dia pra morrer.

M: E existe dia bom pra isso?

L: O dia em que notarmos que não temos mais nada pra fazer.

M: Morrer de tedio? Que sem graça...

L: Ninguem controla sua morte, se a pessoa não morre naturalmente, é sempre a falta do que fazer ou, pelo menos, a sensação disso.

M: Mas o tedio é controlável. Bem mais heróico morrer fazendo a diferença do que esperando, apático, o que fazer.

L: Quando a pessoa perde a capacidade de fazer a diferença na própria vida, ela não teria mais como fazer uma diferença maior, é ai que entra o tedio que mata tanta gente.

M: Tedio não mata. O que mata é deixar ser consumido por ele. Eu fujo da falta do que fazer. Eu me faço, desfaço, não me acho. Mas também não espero que me encontrem.

L: Tedio não é algo escolhido, portanto ser morto ao ser consumido por ele é ser morto por ele em si, já que você não deixou isso acontecer. Você pode ter resistido mas ele foi mais forte. Isso geralmente acontece quando você perde a capacidade de fazer algo, quando você perde a confiança do mundo. Caso isso aconteça, não ha como ir contra o que tenta lhe destruir. Felizmente não é meu caso.

M: Mas ai você não morreu de tédio, mas de desmotivação. O tedio pode ser quebrado com um simples sonho, pensamento. Não ser capaz de fazer algo é bem diferente de não querer fazê-lo. E os desejos nos levam pra frente.

L: Já vi certas pessoas que perderam a capacidade de sonhar, ou melhor, tiveram ela arrancada, afinal, não é algo que as pessoas escolham.

M: Eu já passei por isso. Logo eu, que dormia só pra poder sonhar... Mas então eu acordei e...

L: E?

M: E fui capaz de perceber que sonhos existem quando estamos acordados também. Meu prazer em fantasiar é constante e é o que me dá forças pra fazer a tal da diferença. E você? Daonde vem sua força?

L: Do mesmo lugar que a sua, a unica diferença é a forma de encarar. Não vejo como um fantasiar constante, e sim como a realidade, pois estamos acordados no mundo real e temos que tirar força dela de duas formas: Das coisas boas que acontecem pra nos motivar a leva-las aos outros, e das coisas ruins que acontecem pra nos fazer combate-las.

M: E faz diferença estarmos de olhos fechados ou abertos? Deixa de ser sonho se não estamos dormindo? Tem tanta gente que se aliena com o olhar arregalado...

L: Porém só é alienado quem está com o olho fechado e o cérebro parado, abra sua mente e seus olhos ao mesmo tempo, que todo o vestigio de alienação que tentaram lhe lançar será levado pelo vento.

M: Pode ser, mas as vezes um sonho é muito mais esclarecedor que um jornal informativo que, teoricamente, retrata a realidade nua, crua e enlameada.

L: E quem disse que me baseio em jornais? Me baseio no que meus olhos me deixam ver, minhas mãos deixam sentir e minha mente deixa compreender.

M: Sem um desses sentidos, então, a gente se torna alienado? Mas poxa... Meus sonhos são sempre tão reais.

L: Seus sonhos são reais quando você se esforça pra torna-los assim, quando você busca felicidade, você faz isso?

M: Só quando não estou entediada...

L: Alguem que ainda tem forças pra sonhar mesmo entediado? O que te leva a ser assim?

M: Porque ao menos no sonho eu consigo fazer a diferença que meu corpo nao permite.

L: Então não acha que chegou a hora de buscar ajuda? O corpo as vezes não se movimenta até o final sem ajuda.

M: Quer me ajudar? Quer fazer parte do meu sonho real?

L: Sempre quis, me juntar a você para fazer nossos sonhos reais te fazerem mais feliz.

M: Mas você não precisa fazer nada, você já é o meu sonho.

L: O que quero fazer é transformar esse sonho em uma realidade para ambos.

M: Então transforme. Me transforme.

L: Não sei se três palavras algum dia bastariam pra mostrar o quanto eu quero isso, mas, direi-as: Eu te amo!

M: Se elas não bastam, só me restam as reticências porque não há mais nada a ser dito...

L:Então usarei o ponto final pra mostrar que não há mais o que dizer, e sim o que fazer, e é fazer dessa realidade uma realidade melhor para nós dois.

M: É o fim... Do começo.

quinta-feira, maio 06, 2010

O quê é por não ser.

A: É.
B: É?
A: Não é.
B: Porquê?
A: Porquê o que?
B: Porquê não é?
A: Não é pra ser...
B: Quem disse?
A: Não precisa dizer.
B: Como sabe?
A: Não preciso saber.
B: ...
A: Eu sinto.
B: O quê?
A: Que não é.
B: Não é o quê?
A: Meu.
B: O quê?
A: Tudo.
B: Tudo o quê?
A: O que eu quero.
B: E porquê quer?
A: Porquê não é pra querer.
B: Não?
A: Não.
B: Entendo.
A: Mesmo?
B: Não, mas deixa pra lá.
A: Ah é?
B: Não, não é. Mas deixa.
A: Eu sempre deixo.
B: Sorte a sua.
A: Que nada, desistir não é bom.
B: Só do que é pra ser.
A: Mas tudo que eu quero não é pra ser.
B: Você não sabe o quê quer.
A: Não, eu só não sei escolher.

quarta-feira, maio 05, 2010

Felicidade.

A: Parabéns!
B: Pelo o quê? Não é meu aniversário...
A: E precisa ser pra você comemorar?
B: Comemorar o quê?
A: Mais um dia de respiração.
B: Respirar não é sinal de felicidade.
A: Mas é fator crucial pra você buscá-la.
B: Posso ser feliz em outra dimensão.
A: Não viaja.
B: Não é viagem.
A: É um passeio por pensamentos idiotas, então.
B: E o quê é felicidade pra você?
A: Respirar.
B: Porquê isso é tão importante?
A: Porque eu não inspiro apenas O2. Eu absorvo felicidade gaseificada.
B: Aonde a encontra?
A: Em sorrisos, abraços, carinhos.
B: De quem?
A: E importa?
B: Aceita de qualquer um?
A: Felicidade é bônus.
B: Não, felicidade é necessidade.
A: E respirar?
B: Também.
A: Agora concorda comigo?
B: Acho que sim. Tô indo.
A: Fazer o quê?
B: Resolvi respirar também.
A: Boa viagem.
B: É só um passeio por pensamentos idiotas.
A: E com destino à alegria.

Educação.

B: Tá aqui agora?
A: É, parece que eu voltei.
B: Voltou daonde?
A: Da razão.
B: E tá aonde agora?
A: A questão não é onde, mas como.
B: E como tá?
A: Tô bem.
B: Ainda oca?
A: Não tenho gritado internamente pra saber.
B: Mas tá melhor assim?
A: E isso importa?
B: Claro.
A: Pra quem?
B: Pra mim.
A: Não fiz isso por você.
B: ...
A: Ainda reticente.
B: Ainda direta.
A: Ainda sou eu.
B: Que bom.
A: Ou não. Se meu 'eu' fosse tão bom não teria o porquê de acontecerem metade dessas coisas.
B: É uma questão de destino.
A: Não me venha com essa.
B: Não acredita em destino?
A: Não acredito em você.
B: Mas não fui eu quem inventou o destino.
A: Claro que não, cada um faz o seu.
B: Dizem que Deus o escreve certo por linhas tortas.
A: Apaguei e reescrevi.
B: E achou a sua história melhor do que a Dele?
A: Minha redação não ficou tão boa, não ganhou a nota máxima.
B: E quem dá as notas?
A: A vida.
B: Ela não é justa o suficiente pra isso.
A: Mas é uma ótima professora.
B: É, acho que sim.
A: Vou indo.
B: Vai pra onde?
A: Pra mais uma aula. Com licença, vou viver.

Albergue.

B: Oi!
A: Adeus.
B: Nossa, já vai?
A: Nem tô aqui, não tá vendo?
B: Tá sim, posso te tocar.
A: Já me tocou demais.
B: ...
A: Sempre tão reticente.
B: Sempre tão direta.
A: Sempre tão eu.
B: Adoro o seu eu.
A: Odeio saber que me adora mas não me quer.
B: Eu te quero bem.
A: E eu só te quero. Ou melhor, queria.
B: Não quer mais?
A: Não seja pretencioso. Tudo passa.
B: Eu passei pra você?
A: Você passou por mim. Me atravessou.
B: Não te fiz de ponte.
A: Me fez de albergue. E agora se foi.
B: Fui expulso?
A: Escolheu outro lugar pra se hospedar.
B: Quem sabe um dia eu ainda volte praí.
A: Acho que não.
B: Porquê?
A: É que eu não estou mais aqui.

terça-feira, maio 04, 2010

O meio é o começo do fim.

Se nascemos, a luz se cria.
Enquanto vivemos, morremos a cada dia.
E o meio é o crescimento constante da proximidade do momento sórdido e final.

Mania de dizer que 'seja eterno enquanto dure'. Não vai ser, pára de se enganar. De me enganar.
Nem durou pra poder eternizar. E agora, José?

Game over.
A resolução é pegar o jogo e defenestrar. Colidir com a parede da consciência, ultrapassar os limites imaginários dos impulsos e desejos e finalmente desaparecer. Mas não posso jogar pela janela. Estou embaixo. No fundo. Subterrâneo.
Quem sabe se eu jogar para cima... E se voltar? Cair direto em minha cabeça? Se impôr de volta sobre minha mente para nunca mais se disvencilhar de meus pensamentos?
Para longe, ao horizonte.
Que falta de consideração com o infeliz que tiver essa maldição atravessando seu caminho.
Destruição.
Claro, claro... Queimar o jogo. As fases, missões, pontuações. Todas elas em formato de lembranças. Malditas que fazem questão de retornar a cada pisque, inspiração e respiração.
Que batem pé e resolvem não mais sair. Que se tornam enfáticas, perturbadoras e perseguidoras quando meus olhos se fecham. Faço isso para fugir da claridade. Da luz real que me atinge, cegando.
Mas agora não posso nem ao menos dormir. Logo eu que o fazia só pelo prazer de sonhar.
Queimar. Fogo. Chamas. Cinzas. Espero que não renasça, nada de fênix passional.

Incêndio de sentimentos ácidos. Corrosivo. Inflamável. Letal.
Não atingi meu alvo. Mais uma vez o jogo acabou sem que eu recebesse as congratulações. Nada de winner. Nada de nada. Tudo de nada. Nada de tudo que não me resta. Perdi 100% do que nunca tive.
E queimo. Respiro o cheiro inebriante e avassalador. E o faço com a frustração do tamanho do inferno. Com a certeza de que o paraíso ou não existe, ou simplesmente não é aqui.

Pára de se esconder e me deixa viver.
Pára de me esconder em você.

A: Você me deixou.
B: Claro que não, não diga isso.
A: Ah sim, é que você nunca esteve aqui, na verdade.
B: Já estive, você não viu.
A: Eu vi, só que enxerguei tarde de mais.
B: Arrependimento.
A: Se matasse minha cova seria no inferno.
B: Você sabe que não merece ir pra lá.
A: Os anjos não me querem mais.
B: Como sabe? Eles tocaram harpa e contaram pra você?
A: Não. Eles tocaram ''I'm yours'' mas deixaram de me proteger.
B: Quem sabe encontraram outro alguém pra defender.
A: Quem sabe eu não resista sem essa proteção.
B: Você sabe se cuidar.
A: Disso eu não tenho tanta certeza.
B: Mas a vida continua.
A: Eu sei, vou sobreviver.
B: Que bom.
A: Não acho.
B: Porquê?
A: Sobre-vida é pior que a morte.
B: Você tá viva.
A: Não pra você.

sábado, maio 01, 2010

Subjetividade.

Adoro conversas indiretas, que você precisa pensar no intuito da pergunta e formular uma resposta interrogativa que continue com esse ciclo vicioso. É divertido, inteligente e excitante.
O que me irrita é quem não sabe fazer isso e fica jogando cantadas baratas à torto e a direito. Que porra broxante.
Seriously, não tem nada menos interessante do quê alguem que se escora em xavecos de bar ou frases de adesivo de bombom.
Eu gosto do espontâneo, nem que ele seja confuso e indeciso. Do extravagante se ele é inconsciente e do sem-graça se ele estiver projetando a realidade. O que eu não gosto é de exageros. De frases pré-pensadas, roteirizadas. Eu faço muito isso mas nunca coloco em prática senão perde a graça.

Mania fodida de me atrasar pra escola só porque resolvi conversar sozinha, criar diálogos que possivelmente nunca vão acontecer. Cinco e dez da matina e eu aqui, falando baixo e pensando alto no que eu poderia dizer e no que iriam me responder.

(Legenda: A pra identificar a autista aqui e B pro bacaninha poder ser reconhecido)

A: Oi, como tá?
B: Bem, e você?
A: Não sei, tô meio oca.
B: Do tipo que nada soa direito por dentro?
A: Do tipo que grita internamente e faz eco.
B: Já passei por isso.
A: Que droga.
B: É, não sinto a menor falta desse vazio.
A: Imaginei.
B: Mas eu sinto falta.
A: Acabou de dizer que não sente. Explique-se.
B: Não do vazio, de você.
A: Mas eu tô sempre aqui.
B: Mas você tá oca. Não te ouço.
A: É que eu não falo mais.
B: Então volta a falar.
A: Esqueci como é que faz isso.
B: Usa a voz.
A: A da garganta não sai.
B: Usa a do coração.
A: Não tenho mais como.
B: Porquê não?
A: É que ele não é mais meu.

Roteiros subjetivos, reflexos da minha (in)sanidade.
Que merda, quero crescer logo e usar isso pra ganhar dinheiro. Ficar nessa dependência de pais é foda. Preciso comprar meu piano, meu iAlgumaCoisaQueToqueMusica, minhas roupas sem pitaco da mamãe, minha comida sem sal, meu diploma, meu chefe, meus gatos, meu namorado e uma casa com lareira na Noruega.
E já.