Comprimidos

Leia a bula.

Ao persistirem os sintomas, procure um médico que saiba responder algo além de "deve ser amor".
Que coisa doentia.

domingo, outubro 31, 2010

Construção é questão de prefixo.

Cansei de ser dramática.
Mas cansaço não me basta pra deixar de ser. Se respirar desse trabalho, talvez eu não o fizesse... A preguiça me move o suficiente pra me manter estagnada. Minha vontade de nada é tudo que reside.
E parece que ninguem se importa com essa minha apatia. Eu sou a vítima, a causa, o acidente. Sou o desastre, o fênomeno nada grandioso, o aborto. Mas nada disso é aparente. Nada é expelido para fora dessa minha cabeça confusa, ferida, deslocada.
E, ainda assim, apesar de indiferente, consigo atravancar as rotas alheias.
Ocupo espaço, gasto oxigênio, água, luz, gás, comida, roupas, pessoas, sentimentos que nem ao menos são dignos de mim.
E nem sei bem como o faço. Não me sinto aqui. Talvez eu de fato não esteja. E, se for verdade, Buarque me traduziu antes mesmo d'eu nascer. Morri na contramão atrapalhando o tráfego.

sábado, outubro 30, 2010

Ócio duro de roer.

Esse tanto de nada pra fazer deixa minhas energias exaustas de não serem gastas.

Aqui jaz meu eu lírico.

- O almoço está na mesa, querido.
Havia pouco tempo que estavam juntos. Pouco tempo até mesmo para saber quem eram; não existia a certeza nem do nome do outro. Mas a casa fedia a amor.
Uma pena que só ela se gabava do cheiro.

Enquanto a mulher, com uma expressão abobada, lhe entregava em uma bandeja de prata seu coração, ele ria-se por dentro sabendo que aquilo ia matá-la.
Ela estava esvaziando-se por ele, para ele. E isso não havia a menor importância, era um jogo, um passatempo que logo teria fim.
E teve mesmo.
Estavam dentro da casa com todas as janelas escancaradas, apesar da chuva. Tão arreganhadas quanto o sorriso que não evaporava do rosto dela.
A casa que ela sonhava ser só para eles dois.

Em poucas frases, cuspidas e mal formuladas, ele abriu a jaula de toda a agonia que residia nela mas que se escondia por detrás das ilusões que ele mesmo fomentou; palavras cortantes como um vento áspero e enregelante no meio da nevasca. Ela congelava. Estava frio ali dentro.
- Não é você, sou eu. Não fui feito para isso, gosto de ser livre.
Se ela estivesse em seu estado original, que nunca fora tão grogue de paixão, teria respondido imediatamente:
- Maldito filho-da-puta, porquê me trancafiou em você então?
Mas não. Emudeceu, como todo seu corpo fizera. Nada a obedecia. Perdera todo o respeito, o controle, o amor próprio.

Ele deu as costas e deixou a cena, restando apenas a moribunda. Uma caixa de ossos destrambelhada, desnorteada, desalmada. Nada.
Não restara absolutamente nada.
Sentou-se numa cadeira, tão oca quanto ela, e despejou os braços e a cabeça sobre o vidro.
Antes de se afogar em pesadelos de olhos abertos, pensou dramaticamente:
A morte está na mesa. É o que tem pra sempre.

segunda-feira, outubro 25, 2010

Se fue.

A: Ainda insistindo nessa ideia de adeus?
B: Nada pode ser mais preciso que a chegada da partida.
A: O que não é preciso é você me deixar.
B: Não se preocupe, não muda muita coisa. Antes éramos um par, agora somos dois.

Porque de pronto ya no me quería
Porque mi vida se quedo vacía

Política interna, intima, infima e inutil.

Sou uma pessoa justa, que gosta de igualdade. E estou pensando seriamente em dilacerar meu corpo pra que ele se assemelhe ao meu coração. . ... .. .. .. .... .. . .. ... .. . .. . . . .. .

domingo, outubro 24, 2010

Lavo, passo, cozinho e amo muito bem.

Se sair de casa significasse se livrar de mim eu já estaria de malas prontas.
Não aguento mais o espírito cavernoso daqui. Desse cheiro de mofo misturado à sua colônia barata. Desse ar lotado de desespero. Seria menos covarde se eu te despejasse, porque a culpa é sua afinal. Mas não estou buscando coragem, apenas um outro lugar pra morar.

Cof cof.

Interpretações do que te mantem vivo podem ser destrutivas. Respirar pode ser um objeto experimental pra felicidade. Ou punição pelo fracasso: esteja aqui e tente se manter confortável diante de suas próprias incompetências.
Mas não dá pra fugir dessas vertentes. Fatos - que nem sempre são fatos, podem ser meros acasos. Culpe sua aura cósmica ou o quê quer que suas crenças evoquem - que nos levam ao cume dessa montanha crescente, plantada em conflitos.
Abalos sísmicos provocados pelas nossas dúvidas. Pelas certezas erradas, pelos erros certos das oportunidades sem vez. Ou talvez por nada.
Despropósito.
A propósito, não tenho razão alguma pra questionar meus alvéolos.
Apenas queria garantir que você não pode ser o motivo deles ainda trabalharem pra esse corpo retalhado.
O desgaste dele já é culpa suficiente pra você carregar.

Infernaíso.

Apagaram as luzes. Tá escuro aqui nessa sala... Um toque de mãos. Um carinho aqui, um abraço, uma graça. Até que enfim.
Após um longo periodo em stand by, um começo feliz... Ou seria o final?
A luz ainda apagada. Felicidade ecoando. Mais carinhos, beijos, graças. Sorrisos. Amor. Pelo menos de uma parte.
E só dessa parte, pelo visto.
Acenderam as luzes, mas não é o fim. Não pode ser. Foi só uma lâmpada. Eletricidade. Choque.
Despedem-se.
Dia seguinte, relação aparente. Afeto aparente. Tato, gosto, sentimentos. Tudo baseado em imagem, maquiado.
Mas tão bem pintado de realidade que era difícil duvidar. Havia algo ali, era nítido. E até então, era bom.
O dia se seguia lentamente, e ela mantinha o pensamento no dia anterior. Na escuridão calorosa, nos braços que a envolvera, no
gosto que sempre a enlouquecia, e em cada simples detalhe que não lhe passou despercebido, afinal, era tudo aquilo o que ela mais queria.
Os intervalos eram como fragmentos do "pra sempre". Encontros que faziam tudo tão mais intenso.
Fim do dia. Uma falha na chama que saía da ponta do isqueiro. Não lhe faltava combustível, mas simplesmente não acendia.
Mais um dia. Atravessou seu caminho como um mustang. Sem notar a volta, nem se preocupar com quem ali estava.
Exatamente assim. Um selvagem. Mas porque?
Ela começou a notar a diferença. Não fazia sentido. Mas talvez não tivesse mesmo uma razão.
Sentia aflorar uma dor extrema. Arrependimento? Desprezo? Ela não fazia idéia.
Foi então que veio-lhe uma resposta. Não era mútuo. Uma via de mão única. Ela estava sozinha nessa.
Ele tomou outra pista, um novo caminho, um novo rumo. Sem ela. Uma viagem que talvez não tenha volta.
Ela sabe bem que ainda vai tentar buscá-lo em seu destino. Incapaz de deixá-lo seguir em frente sem saber o que deixou. E porque o fez.
Talvez seja apenas isso que falta. Uma motivação. Pra resistir ou pra desistir.
Desistir e aceitar que são planos distintos ou resistir e pôr-se na frente dele, com a única bagagem que tem: o intimo.
Bagagem essa que deveria ser suficiente. Para abastecer um mundo inteiro, aliás.
Ela toma um vôo pra qualquer lugar. Se joga. Queda livre. Esperando apenas que ele lhe tome nos braços.
Fecha os olhos. Escuro novamente. Não sabe se vai cair ou se tudo não passou de uma fase, aonde ele despertou e viu que
não podia ter acabado. Não ainda. Era pra ser até a eternidade, como lhe havia prometido.
Mas, numa história dessas, nenhuma promessa deve ser levada seriamente em conta. É uma relação movida à inconstâncias.
A menina, insensata e apaixonada, sempre se perde. Não há mapa que trace a trajetória certa da vida.
Dessa vez não foi diferente e ela foi do paraíso ao inferno.

Em apenas dois dias.

Dó.

O corpo solto, o rosto morno,
Viva não sei bem se é a palavra.
Olhar perdido e a mente divaga.
Devagar.
Vagas em qualquer lugar
Desde que seja fora de mim.
Desinvade.
Some. Sai.
Até eu desemboco no depois da minha carne.
Um grito mudo foge.
Cambaleia dentro de minh'alma
Com todos os meus sentimentos em claves de neve
Gélida como meu peito.
Praticam essa sonata
Que faz de mim
Cheia de vazio.
Estou atrasada pro refrão.
Estou
Des
com
pas
sa
da
Da cifra do meu coração.

Substantivo masculino singular. Extremamente singular.

A: Vou indo.
B: Nem te vi aí, olá.
A: Já fui.
B: Não minta, olha seus olhos aqui perseguindo os meus.
A: São apenas olhos.
B: São seus.
A: É apenas eu.
B: Sou eu.
A: Não, sou eu.
B: Mas sem você não há mais...
A: Você? Quantos pronomes...
B: Isso vai além da gramática.
A: Pode ser, mas tá na hora de um ponto final...
B: Porque você está tão reticente?
A: É que eu ainda estou na duvida.
B: Então se dê um tempo pra pensar...
A: Você ainda vai estar aqui?
B: Por ai, nessas esquinas.
A: Curvadas feito virgulas, não é mesmo?
B: É, tão bonitas...
A: Lindas!
B: Quer dar uma volta pela cidade?
A: Mas eu ainda não me decidi.
B: Vamos tomar um café, ler umas borras.
A: Você acredita nisso?
B: Não, mas acredito em nós.

sábado, outubro 23, 2010

Sinopse.

Arranjei algo pra escrever.
Uma dor pra reclamar,
Um choro prontificado na datilografia.
E letrar que sempre foi meu gosto pros dias insossos
Passou a amargar.
Instigando meu tudo,
Provocando um vômito mental.
Projeto minhas cordas,
Vocais,
Banais,
Compradas pra te dizer toda minha sinceridade,
Mas delas nada sai.
Vai ver minha alma era a sua viola,
E com suas mãos de tamanho adequado
Tocavas meu intimo de modo descompassado.
E aqui estou eu,
Digitando o roteiro funesto da nossa história
Trilha sonora cheirando ao café da manhã, que dá as caras pelos cantos
Dizendo que nada mais quer ficar dentro de mim.
Especialmente você.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Oi internautas.

Há quem diga que nascemos pra nós mesmos. Que o mundo não passa de um encontro de pequenos mundinhos individuais que acabam se entrelaçando e criando rebeliões sentimentais e ideológicas. Eu faço parte do grupo que crê que nascemos pro mundo. E que esse mundo é mais do que pedaços de solo, poeira e gente viciada em si mesma. É mais do que podemos perceber. Aliás, mais do que podemos ter. Somos superestimados, achamos que esse lugar é nosso mas não percebemos nossa pequeneza perto da existência das outras espécies. Não somos mais importantes que essas. Nem mais vitais. Só conseguimos dar um passo a frente na evolução. E por uma questão de sorte, acredite. Podiam ser os macacos a criarem esses iQualquerCoisa que entopem nossas vitrines.
Manequins. É como se tivessemos nos tornado bonecos montados. Trocamos de roupa mas não fazemos a menor questão de revermos nossos conceitos sobre quem e o que nos veste. E achamos normal quem doa a vida pra manter esse ciclo vicioso de futilidade. Pode parecer cômodo para mim, que estou sentada na frente de uma dessas armas sanguessugas da sociedade (ou inovação tecnológica, como queira chamar), mas pelo visto é a unica forma que me sobrou de chegar até as pessoas.
Paradoxo. É isso que marca os novos tempos. Enquanto pensamos que a cada dia nos aproximamos do patamar mais cobiçado da evolução nos tornamos incapazes de promulgar o tato. Há de chegar o dia em que o contato se torne obsoleto se não intermediado por fios. O dia em que nos tornaremos irracionais, monitorados por um chip social. Um passo à frente diante da incompatibilidade de nós mesmos.
E talvez meu pensamento de nascer para o mundo me torne um alvo mais evidente dessa onda futurista, quase uma vanguarda. Mas não me importo, eu resisto. Enquanto tiver consciência de sou mais que um amontoado plástico de vitrine, eu não me importo. Enquanto minha voz não for silenciada pela falha na instalação do Leadership 4320. Enquanto eu não me tornar um ciclope Nakashi. Enquanto eu for eu e, ainda assim, conseguir ser interessante.
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domingo, outubro 03, 2010

Dinamite.

“Eu quero mesmo é que tudo exploda. E que seja luminosa a explosão, que ecoe pelos quarteirões e faça tremer teus vidros, quebrar tuas janelas. Que perturbe teu sono e te faça ir pra rua pra ver o que aconteceu. Você não vai me encontrar lá. Eu não sou o piloto. Não sou o passageiro. Não sou o pedestre. Eu sou o acidente, e eu sou grave.” - Lucas Silveira

Eu sou o barulho, a gritaria, o desespero, o caos. Sou o que não dá pra entender, o que não dá pra evitar de ser. Porque eu me alimento de verdade e, acredite, nem sempre é bom. As vezes a mentira soa menos dolorida, causa menos insônia. Mas aí vem ônus de não saber quem és, no fim. Por isso a dor, de seu modo, me parece apetitosa. É sinal de que estou aqui, que minha carne inflama e pede pra morrer. E se o pede é porque estou viva.
Na minha tragédia há a graça da existência, e talvez isso me faça muito melhor do que uma comédia cujo roteiro não fui eu quem escreveu.