Comprimidos

Leia a bula.

Ao persistirem os sintomas, procure um médico que saiba responder algo além de "deve ser amor".
Que coisa doentia.

quinta-feira, julho 22, 2010

Lire de lui-même.

Às vezes, inventamos maneiras pra dizer sempre "não" por ter medo do "sim".
No entanto, o que agora me afronta não é a afirmação, mas o início do fim.

Pode parecer conformismo ou uma espécie de masoquismo adaptativo, mas internamente o vejo como um mecanismo de defesa, de proteção. Por mais que a situação não esteja perfeita, é mais seguro se manter nela até que algo concreto apareça e me tome nos braços, me tirando dessa prisão. Uma enrascada de sentimentos, que assola todas as partes do meu corpo. Que prende minhas mãos junto ao peito e a mente atada às falanges desesperadas. Tudo treme.
Tremor. Amor. Que seja.
Está bem, não é amor. Nunca foi, espero que não tente ser.
Faz falta, incomoda, subordina e limita, mas não me cega, felizmente.
Só estou nessa por medo, reconheço. Já cometi esse erro uma vez.
Estava segura, arrisquei, perdi tudo.
O tal do certo pelo maldito duvidoso.
Mas não arrisquei relações, amizades, contratos, números, matéria.
Pus a perder meu eu.
Aquele que gritava por alguém que é surdo, que chorava por um coração duro e pedia respostas de uma alma muda.
Aquele que planejava discursos poéticos, com o propósito de tornar tudo o mais próximo das histórias infantis. Pena que não há mocinhos. Nem sempre o final feliz é garantido.
Pelo menos não na mesma história.

Me disponho, então, a mudar de livro. Escrevê-lo com cautela, mas sem temer as páginas seguintes. O enredo se dará de acordo com as linhas tortas que irei preencher. A caligrafia mais polipolar, as lacunas, os garranchos apressados. Os capítulos pulados, apagados ou repetidos pra afirmar tudo que representaram. O clímax.
Autora naturalmente desenfreada que acaba estagnando por um simples embate de idéias. Uma crítica, uma distração. Uma tirinha ou passatempo, pode-se dizer.
Mas não estou mais pra brincadeiras, palavras cruzadas ou contadas no fim do livro. Não quero algo com três cenas, frases de acaso ou um fim escusado.
Não quero uma série. Quero um enelogia sem fim.

E não mais temo porque o início do fim sou eu quem dita. Minhas ações transcritas no rascunho da vida não se apagam com o tempo, nem mesmo se acumularem poeira na estante da memória.
Não há editora, publicação em larga escala ou selo de comprovação. Não merece prêmio Nobel ou fãs histéricas. São algumas muitas páginas, que transpiram sentimentos e valores. Que absorvem minhas lágrimas e fotografam os sorrisos. Que não podem ser amassadas ou rasgadas pois tem o dom de ressurgir. Aliás, nunca somem. É impossível não lembrar do que nunca se esqueceu.
E mesmo que se esqueça, a história é imutável e didática. Aprender com cada fala e episódio dessa bíblia passional é missão de sobrevivência. Páginas que, no fim de tudo, vão refletir quem fui e quis ser, o que pude, quis e sonhei em fazer. Os anseios de uma leitora de si própria.
São só algumas páginas.
É só a minha vida.

Como se fosse pouco.

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