Comprimidos

Leia a bula.

Ao persistirem os sintomas, procure um médico que saiba responder algo além de "deve ser amor".
Que coisa doentia.

sexta-feira, novembro 12, 2010

Arte.

Tenho sonhado com coisas simples. O dia clareando, seu sorriso de caninos pontiagudos que perfuram meu coração e nada mais do que isso. Como se fosse pouco. Como se você já não fosse tudo.
Livro meus olhos do peso das pálpebras e reparo nas estrelinhas infantis coladas no teto. Elas não brilham mais à noite.
Queria poder dormir lá fora, mas a sociedade não deixa. Queria poder dormir com você e espero que a sociedade vá tomar no cu se vier impedir que essa ultima gota de felicidade jorre de mim.
Mas ai eu abro a janela. E você tá pela esquina de qualquer lugar. Esqueci aonde eu tô, o nome da rua, o meu nome. Só sei de você.
E dos seus braços que envolvem o pacote pardo da padaria, a fumaça que sai dos seus lábios. Dois vicios num só. Mas eu largaria o cigarro por você, acredite.
Eu me largaria por você. Eu já faço isso.
E você para num banco qualquer de uma praça que brotou pelo meio do caminho. O que você criou pra que seus pés pudessem pisar.
E senta, e encanta, e faz de mim uma espectadora alucinada por te ver esfarelar o francês com manteiga. A xícara de café roubado do bar vizinho (que é mais gostoso, o da padaria é muito ralo) e o cheiro que sai dela incomoda meus pulmões. Mas eu seria capaz de moer café com os olhos só pra te ver sorrir com a degustação. Só pra assistir você cheirar toda a fumacinha e dizer pra si mesmo que tem sorte de ainda ter um emprego qualquer que banque seu pretinho da manhã.
Fotografo essa imagem. Emolduro. Um quadro que eu pregaria na minha parede.
Porquê existem coisas que são lindas sem esforço?

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