Toda manhã ela aparecia na mesma padaria, sentava-se próxima ao balcão e pedia seu rotineiro café com pão.
Abria o jornal matinal, e ia intercalando a leitura com os goles na bebida aquecida. Aquele jornal que vinha com as notícias diárias, a maioria delas tragédias cuspidas em letras garrafais. Relatos de vidas fragmentadas por motivos insanamente humanos.
Eram gritantes os defeitos, mas, ainda assim, ela vivia como se sua história fosse parar num filme hollywoodiano.
Estava totalmente alheia ao que acontecia.
Ria-se das tirinhas, um interesse especial naquelas em que o protagonista é um animalzinho falante, tão surreal. Cultuava as crônicas, salto triplo no caderno de esportes. Sapateava nas folhas do caderno de economia que, aliás, relatavam mais um acesso de crise nas ações.
Quem se importa?
Ela estava ali, saboreando um café forte feito o povo que doma a verdade do mundo. Um café emoldurado por uma xícara de porcelana, frágil feito essa puta sociedade desigual, apagada como a voz de toda essa gente, descontente, descrente, doente de não saber o quê é ou o quê pode ser.
Um café doce como as lorotoas que hoje contam aqueles da politicagem, se maquiando de sensibilidade e justiça.
Café puro feito a mente das crianças que ainda acreditam no que está por vir.
E o pão? Esse é pra que a vida não fique tão indigesta. Ele que torna tudo menos intragável.
É pra segurar aqueles que tem estômago.
6 comentários:
e aqueles que tem o coração? do que vivem?
"i read the news today, oh boy"
jornais costumam ser bem selvagens e tristes, exatamente por falarem da realidade.
E o que fazer diante desse mundo falsamente educado prestes a explodir, senão tomar um doce café com pão?!
Tem sido muito bom vir aqui!
Obrigado!
Abração!
e que realidade. às vezes nem nos damos o luxo de ler, pra nao ver os próprios tropeços...
Texto amargo, quente e forte. Do jeito que gosto do meu café
E os que trocam coração por estômago, não há digestão que de jeito!
muito bom o seu texto!
beijos
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