Comprimidos

Leia a bula.

Ao persistirem os sintomas, procure um médico que saiba responder algo além de "deve ser amor".
Que coisa doentia.

sexta-feira, novembro 12, 2010

Alma condensada.

Tem dias que não dá pra acordar bem, inteira. Apenas levantar da cama, olhar o mundo através da janela e ver somente uma faixa de destino embaçada, enquadrada naquele pedaço inorgânico. De parar pra refletir (não no vidro, mas dentro de mim) e tentar descobrir para que vim.
Crises de identidade e (des)crença que me pegam de um jeito que não dá pra não pensar.
Hoje foi um dia assim, todo cinza.
Ainda debruçada no mármore gélido, fiquei, por longos minutos, fitando aquele reflexo abobalhado.
Pensei ter visto uma rachadura no vidro, mas era em mim que ela residia. Meus cortes, meus retalhos, meus indícios de fim. Rasgos que eu não mais lembrava de como contraí. Restos que a racionalidade fez questão de ocultar.
Mas então eu não existia mais. De tanto fugir, acabei me perdendo. E era como se eu visse uma desconhecida.
Aqueles traços não condiziam com o que gritava em mim. Eu fazia eco, meus berros íntimos estavam ali, mas até os mudos podiam falar do silêncio que envolvia o quarto.
Mesmo que a figura projetada gritasse que era eu, o que existia naqueles olhos que alegavam ser parte de mim não era o que eu imaginava passar. Não era o quê eu queria transparecer, mas o visível não existe de verdade. O que somos está escondido e não quer sair.
Não quer, não vai, não sai.
Então eu saio. Me escondo mais uma vez, agora dos meus desencontros.
Da falta que eu faço pra mim, da distância que me impede de agarrar tudo que sou e sinto e amo e amargo e não consigo mas continuo tentando porque é disso que eu vivo.

Por tantas vezes me pego desviando do que sou, do que estou. Tento sorrir quando choro por dentro, quando minhas entranhas estão se rebelando numa dor grogue, embriagada, afogada nos meus erros. E não dá pra respirar.

Claustrofobia. Abro a janela. Não adianta, o sufoco sou eu.

A chuva caía e com ela os pensamentos atordoados empoçavam.
Agora é só esperar que ela evapore, porque é daquelas que vão e cessam.
Que te deixam esperando numa esquina qualquer até resolver lavar quem mais precisar. E então você pode atravessar a rua, desviando dos buracos enlameados mas sabendo que você está aonde deve estar.
No meio da chuva, do frio, da névoa, de si.

Um comentário:

Sr. Reticente disse...

Tem dias que não dá pra acordar!