Comprimidos

Leia a bula.

Ao persistirem os sintomas, procure um médico que saiba responder algo além de "deve ser amor".
Que coisa doentia.

terça-feira, maio 04, 2010

O meio é o começo do fim.

Se nascemos, a luz se cria.
Enquanto vivemos, morremos a cada dia.
E o meio é o crescimento constante da proximidade do momento sórdido e final.

Mania de dizer que 'seja eterno enquanto dure'. Não vai ser, pára de se enganar. De me enganar.
Nem durou pra poder eternizar. E agora, José?

Game over.
A resolução é pegar o jogo e defenestrar. Colidir com a parede da consciência, ultrapassar os limites imaginários dos impulsos e desejos e finalmente desaparecer. Mas não posso jogar pela janela. Estou embaixo. No fundo. Subterrâneo.
Quem sabe se eu jogar para cima... E se voltar? Cair direto em minha cabeça? Se impôr de volta sobre minha mente para nunca mais se disvencilhar de meus pensamentos?
Para longe, ao horizonte.
Que falta de consideração com o infeliz que tiver essa maldição atravessando seu caminho.
Destruição.
Claro, claro... Queimar o jogo. As fases, missões, pontuações. Todas elas em formato de lembranças. Malditas que fazem questão de retornar a cada pisque, inspiração e respiração.
Que batem pé e resolvem não mais sair. Que se tornam enfáticas, perturbadoras e perseguidoras quando meus olhos se fecham. Faço isso para fugir da claridade. Da luz real que me atinge, cegando.
Mas agora não posso nem ao menos dormir. Logo eu que o fazia só pelo prazer de sonhar.
Queimar. Fogo. Chamas. Cinzas. Espero que não renasça, nada de fênix passional.

Incêndio de sentimentos ácidos. Corrosivo. Inflamável. Letal.
Não atingi meu alvo. Mais uma vez o jogo acabou sem que eu recebesse as congratulações. Nada de winner. Nada de nada. Tudo de nada. Nada de tudo que não me resta. Perdi 100% do que nunca tive.
E queimo. Respiro o cheiro inebriante e avassalador. E o faço com a frustração do tamanho do inferno. Com a certeza de que o paraíso ou não existe, ou simplesmente não é aqui.

Pára de se esconder e me deixa viver.
Pára de me esconder em você.

A: Você me deixou.
B: Claro que não, não diga isso.
A: Ah sim, é que você nunca esteve aqui, na verdade.
B: Já estive, você não viu.
A: Eu vi, só que enxerguei tarde de mais.
B: Arrependimento.
A: Se matasse minha cova seria no inferno.
B: Você sabe que não merece ir pra lá.
A: Os anjos não me querem mais.
B: Como sabe? Eles tocaram harpa e contaram pra você?
A: Não. Eles tocaram ''I'm yours'' mas deixaram de me proteger.
B: Quem sabe encontraram outro alguém pra defender.
A: Quem sabe eu não resista sem essa proteção.
B: Você sabe se cuidar.
A: Disso eu não tenho tanta certeza.
B: Mas a vida continua.
A: Eu sei, vou sobreviver.
B: Que bom.
A: Não acho.
B: Porquê?
A: Sobre-vida é pior que a morte.
B: Você tá viva.
A: Não pra você.

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